Abrindo a casa...

Nasci paulistana tempos atrás e agora, aos 30, nasci de novo. Nasci para a cidade, de um pré-natal boêmio, festeiro, regional. De um pai simples, vindo lá de Paraguaçu Paulista. Um pai adotivo, todo música, prosa e poesia. Um pai caipira, sertanejo e folião. Quando urbano, um pai culturalmente enraizado, teatralizado, amigo. E foi dos seus amigos que, hoje, fiz os meus: os pares perfeitos do Café Fubá (e alguns avulsos, como eu).
Deste meu pai ouvi falar dois ou três anos antes dele me parir: "o Zé Maria, um senhor que está sempre lá". Isso foi em São Luis do Paraitinga por ocasião de eu ter ido conhecer o carnaval de marchinhas da cidade e "lá" era o Café Fubá, um bar ritmado ao som da viola caipira do Oswaldinho Viana e à percussão da Marisa Viana, sua esposa.
Com este meu pai aos poucos vou me regionalizando e quando somos nós dois, vez em quando ele me pergunta: "você conhece fulano?"; e este fulano é sempre alguém que já produziu algum tipo de cultura: um músico, um artista, um escritor que, rotineiramente, eu nunca ouvi falar. Então ele vem, me mostra uma capa de LP, um encarte de CD, um livro, um cordel. Escolhe algumas músicas que quer que eu escute e conta sua história de quem é o fulano ou de como o conheceu. Diz coisas de época e quando as diz vai me apresentando para uma São Paulo que eu não imaginava existir, como o restaurante do Ribinha, conterrâneo do Patativa do Assaré.
É pra tanta gente boa que este meu pai me apresenta que eu fico cá com meus botões tentando entender como é que pode uma cidade como São Paulo, no meio disso tudo, viver de ser-tão paulistana.
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