São Paulo, 19 de junho de 2.007.
Prezada Fernanda,
Escrevo a você, com um bom atraso, para cumprimentá-la pelo texto que você escreveu no blog. Você sabe que ainda prefiro escrever cartas e continuo usando velha e boa Remington. Preferia mesmo escrever a mão, não necessariamente a “bico de pena”, mas na minha adolescência aprender datilografia era item obrigatório da educação daqueles tempos e meu pai matriculou-me na Escola de Datilografia da Dona Leonor (sou diplomado na arte de escrever à maquina e não sou “catador de milho”), também reconheço que a minha caligrafia nunca foi muito boa. Além disso, ir aos Correios está muito demorado, sempre com muitas filas, pois está tudo mudado, não vende mais só selos e manda cartas, agora vende todos os produtos do Baú da Felicidade, recebe inscrição para concursos, contas, pagamento de aposentados e outros serviços. É ... estou "viajando muito" e preciso "me policiar" um pouco nas lembranças, não é isto que vocês jovens dizem?
Achei muito interessante esta idéia de resgatar a arte de escrever e contar histórias e estórias que envolvem os moradores desta megalopole que no fundo é mesmo um Sertão Paulistano. Gosto do seu jeito de escrever, de ser tao paulistana, da sua sensibilidade de passar a nós a sua emoção como no texto do seu passeio pela Avenida Paulista e, quero aqui, indicar uma exposição para você conhecer e depois descrever as suas impressões para os seus leitores, entre os quais me incluo.
Na quarta feira após fazer uma visita a um cliente na Angélica, eram mais de cinco horas da tarde, caminhei até a Paulista com a idéia de ir até a Casa das Rosas – lá no início - para conseguir a letra de um poema de Haroldo de Campos, retornar algumas quadras e tomar uma cerveja no Puppy servida pelo Vicente, meu amigo de 27 anos, até o trânsito melhorar e tomar o meu ônibus tranqüilamente.
Passando em frente ao Banco Real vi o anúncio de uma exposição dos trabalhos do Franz Krajcberg – o hall interno do prédio é majestoso com um praça interna enorme e um pé alto que mais parece o da casa de Gulliver – pois já conhecia alguma coisa, muito pouca do seu trabalho. Ele é polonês de nascimento, naturalizado brasileiro desde 1957, lutou na Segunda Guerra, - toda a família foi morta no Holocausto - veio para o Brasil segundo suas próprias palavras totalmente desacreditado do homem, querendo ficar longe da civilização e o encontro com a floresta brasileira deu a ele a força, devolveu o prazer de sentir, de pensar e de trabalhar. Diz que sentiu-se muito pobre diante de tanta riqueza.
Dos seus trabalhos mais conhecidos estão as esculturas feitas de restos de troncos, galhos de árvores e cipós, recolhidos após queimadas nas florestas. Ao vê-las senti uma emoção tão grande quanto foi foi ver a escultura O Beijo de Rodin, quando fiquei simplesmente paralisado por alguns minutos. Há a exibição de um documentário, feito pelo João Moreira Salles, de extrema sensibilidade em locações por onde Franz Krajcberg viveu e trabalhou como Pico de Itabiritu em Minas: -”As montanhas eram tão belas que me pus a dançar. Eu fiquei emocionado e me perguntava como fazer uma arte tão bela”, em uma queimada no Pantanal: - “as arvores eram como os homens calcinados pela guerra” ou na sua casa feita em cima de uma árvore no litoral baiano onde fala da sua tristeza e decepção com a destruição da natureza. Um detalhe: a narração do documentário é feita pelo Paulo José, a união perfeita entre som e imagem.. Há ainda uma exposição de fotos de sua autoria.
Franz Krajcberg é reconhecido e premiado mundialmente pelos seus trabalhos em defesa da Natureza e principalmente da nossa. Como poderia dizer Vinícius: a Benção Franz Krajcberg, um brasileiro de coração que veio para nos mostrar e ensinar o respeito à nossa natureza. Aguardamos as suas impressões.
Com os mais elevados votos de estima, apreço e consideração despeço-me.
Do seu leitor e amigo,
Zé Paraguassu.
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Todas as fotos são trabalhos de Franz Krajcberg.