Pela primeira vez, sempre tem a primeira vez, e, sem autorização da autora, vou “reprisar” uma postagem do ano de dois mil e sete. Um dos belíssimos textos da nossa Editora Chefe Fernanda, a Lenda.
Um grão de areia de homenagem à Escritora e Doutora Fernanda de Aragão.
"Ai, que saudades que eu tenho
Dos meus doze anos
Que saudade ingrata
Dar bandas por aí
Fazendo grandes planos
E chutando lata"
(Doze Anos, Chico Buarque)
Dos meus doze anos
Que saudade ingrata
Dar bandas por aí
Fazendo grandes planos
E chutando lata"
(Doze Anos, Chico Buarque)
Ai que saudades eu tenho dos meus doze anos... da rua sem saída, de paralepípedo, que meu pai e minha mãe mandaram ladrilhar com pedrinhas de brilhantes só para eu passar, eu tenho certeza! Ai que saudades eu tenho dos meus doze anos... da praça que ficava no fim da vilinha em que eu morava, e da praça depois da praça. Explico: no fim da minha rua tinha apenas uma escadaria que levava a gente pra rua de cima. Bem na verdade, era nesta rua de cima que a praça ficava. Já a praça de cima ficava uma rua de cima desta em que ficava a praça de baixo. No fim da minha rua era só a escadaria mesmo, e um terreno grande que margeava a rua de cima.
Ai que saudades eu tenho dos meus doze anos, de quando eu escorregava a grama da praça a bordo de um pedaço de papelão, ou de quando eu descia a rua de cima dependurada num carrinho de rolimã feito pelo meu pai, que pai fazia de um tudo, até algumas edições do jornalzinho da rua. A criançada toda participava, e dava gosto!
Mas bonito, bonito mesmo de se ver, eram os balões que o pessoal da rua de trás soltavam. Coisa de profissional mesmo, de boloeiro. Começou com um balãozinho médio, colorido, com algumas lanterninhas, num desdes meses bom de soltar balões, entre junho e agosto. Todo ano era a mesma coisa e todo ano o balão ficava ainda mais bonito. As lenterninhas não eram apenas lanterninhas coloridas feitas de papel de seda. Elas formavam um painel, carregavam um desenho, uma bandeira do Brasil em época de Copa do Mundo, um personagem infantil para a alegria das crianças. E motivos nunca faltavam. Nem disposição para o pessoal da rua de trás.
Eles soltavam o balão neste terreno que margeava a rua de cima. Escolhiam o dia, marcavam a hora e lá pelas 17 as pessoas já começavam a chegar para ver os preparativos. O balão, mesmo, só ia subir bem depois, lá pelas 20. Os gigantes incandescentes (naquele tempo não havia proibições quanto a soltar balões) eram feitos com cerca de 250 folhas de papel manilha, barbante e cola. Sua montagem era uma engenharia. E sua soltura, também. O balão chegava todo dobrado, carregado por um grupo que ficava encarregado de desdobra-lo, e com muito cuidado!, enquanto outro grupo arrumava as lanterninhas. Com o auxilio de cordas - as guias - eles controlavam o balão, evitando que virasse, e, com uma bucha postiça iam içando e enchendo o gigante com ar quente. Na medida em que ele ia ganhando forma, eram acesas as lanterninhas. Só depois é que se trocava a bucha por outra, definitiva. E era uma grande expectativa. Ou o balão subia, ou era uma grande frustração que só passaria no ano seguinte.
Tudo tinha que dar certo, até o vento tinha que colaborar. Vento forte podia virar o balão e fazê-lo queimar. Até uma única lanterninha poderia estragar a festa. Às vezes eram preciso umas 4 ou 5 tentativas antes do gigante tomar os céus. E a expectativa aumentava a cada uma delas. Este vai-não-vai era folclórico, emocionante. Quando finalmente a gente via o balão subir, era uma alegria imensa. Era uma alegria ver lá no alto um gigante carregando um Mickey, uma Pantera, uma Bandeira do Brasil. Só uma vez, que eu me lembre ou tenha visto, o gigante não aguentou e partiu sem as lanterninhas. Foi uma tristeza muito grande e o jeito, mesmo, foi esperar o ano seguinte.
Hoje já não se soltam mais balões. Eles queimam as florestas. Então, hoje, eu estou com uma baita vontade de ser tremendamente incorreta. Estou com saudades dos meus balões de infância. Não dos balões propriamente ditos, mas do clima de cooperação e de amizade que eles nos davam. Toda a vizinhança envolvida num mesmo projeto, como era quando a gente fazia o jornalzinho da rua. As ruas de hoje são muito vazias. Não tem balões, não tem garotada empinando pipas (elas podem enganchar na rede elétrica etc e tal). Não tem mais tatu-bola nos jardins das casas, quando estas têm um jardim. Não se colecionam mais minhocas, besouros, baratas (coisa de meninos, arg!). Não existem mais jornaiszinhos e nem a turma da rua de cima disputa espaço com a turma da rua de baixo porque já não se tem mais espaço, apenas carros.
Ai que saudades eu tenho dos meus doze anos... em que ser tão paulistana era sair por ai, dando banda, tocando campainha das casas dos outros e de me escondendo atrás do muro. Ver um balão subir e a noite cair.
Ai que saudades eu tenho dos meus doze anos, de quando eu escorregava a grama da praça a bordo de um pedaço de papelão, ou de quando eu descia a rua de cima dependurada num carrinho de rolimã feito pelo meu pai, que pai fazia de um tudo, até algumas edições do jornalzinho da rua. A criançada toda participava, e dava gosto!
Mas bonito, bonito mesmo de se ver, eram os balões que o pessoal da rua de trás soltavam. Coisa de profissional mesmo, de boloeiro. Começou com um balãozinho médio, colorido, com algumas lanterninhas, num desdes meses bom de soltar balões, entre junho e agosto. Todo ano era a mesma coisa e todo ano o balão ficava ainda mais bonito. As lenterninhas não eram apenas lanterninhas coloridas feitas de papel de seda. Elas formavam um painel, carregavam um desenho, uma bandeira do Brasil em época de Copa do Mundo, um personagem infantil para a alegria das crianças. E motivos nunca faltavam. Nem disposição para o pessoal da rua de trás.
Eles soltavam o balão neste terreno que margeava a rua de cima. Escolhiam o dia, marcavam a hora e lá pelas 17 as pessoas já começavam a chegar para ver os preparativos. O balão, mesmo, só ia subir bem depois, lá pelas 20. Os gigantes incandescentes (naquele tempo não havia proibições quanto a soltar balões) eram feitos com cerca de 250 folhas de papel manilha, barbante e cola. Sua montagem era uma engenharia. E sua soltura, também. O balão chegava todo dobrado, carregado por um grupo que ficava encarregado de desdobra-lo, e com muito cuidado!, enquanto outro grupo arrumava as lanterninhas. Com o auxilio de cordas - as guias - eles controlavam o balão, evitando que virasse, e, com uma bucha postiça iam içando e enchendo o gigante com ar quente. Na medida em que ele ia ganhando forma, eram acesas as lanterninhas. Só depois é que se trocava a bucha por outra, definitiva. E era uma grande expectativa. Ou o balão subia, ou era uma grande frustração que só passaria no ano seguinte.
Tudo tinha que dar certo, até o vento tinha que colaborar. Vento forte podia virar o balão e fazê-lo queimar. Até uma única lanterninha poderia estragar a festa. Às vezes eram preciso umas 4 ou 5 tentativas antes do gigante tomar os céus. E a expectativa aumentava a cada uma delas. Este vai-não-vai era folclórico, emocionante. Quando finalmente a gente via o balão subir, era uma alegria imensa. Era uma alegria ver lá no alto um gigante carregando um Mickey, uma Pantera, uma Bandeira do Brasil. Só uma vez, que eu me lembre ou tenha visto, o gigante não aguentou e partiu sem as lanterninhas. Foi uma tristeza muito grande e o jeito, mesmo, foi esperar o ano seguinte.
Hoje já não se soltam mais balões. Eles queimam as florestas. Então, hoje, eu estou com uma baita vontade de ser tremendamente incorreta. Estou com saudades dos meus balões de infância. Não dos balões propriamente ditos, mas do clima de cooperação e de amizade que eles nos davam. Toda a vizinhança envolvida num mesmo projeto, como era quando a gente fazia o jornalzinho da rua. As ruas de hoje são muito vazias. Não tem balões, não tem garotada empinando pipas (elas podem enganchar na rede elétrica etc e tal). Não tem mais tatu-bola nos jardins das casas, quando estas têm um jardim. Não se colecionam mais minhocas, besouros, baratas (coisa de meninos, arg!). Não existem mais jornaiszinhos e nem a turma da rua de cima disputa espaço com a turma da rua de baixo porque já não se tem mais espaço, apenas carros.
Ai que saudades eu tenho dos meus doze anos... em que ser tão paulistana era sair por ai, dando banda, tocando campainha das casas dos outros e de me escondendo atrás do muro. Ver um balão subir e a noite cair.