Um dos prodígios pouco falados desse nosso sertão paulistano é a imensa quantidade de opções culturais (e também esportivas) postos à disposição do público. É verdade que são muito pouco divulgados, a não ser quando é do interesse da administração pública ou de grupos; para se saber, é preciso vasculhar os cadernos de cultura dos jornais, munido de uma lupa para investigar as letras miúdas ou ir aos órgãos públicos recolher os folhetos informativos. Primeiras páginas de jornal – ou mesmo dos cadernos de cultura! – principais emissoras de rádio ou televisão não se prestam a esse fim, infelizmente!
No entanto, fazendo valer algumas Leis da física, os espetáculos existem, não se pode lhes negar a existência. E para todos os gostos e bolsos. Até para os “sem bolso”. E quero falar justamente desses últimos, os “sem bolsos”, que, pelo menos algumas vezes por semana têm a opção de assistir a algum espetáculo de boa qualidade, gratuitamente. Chamo especialmente a atenção para os diversos SESCs espalhados pela cidade. O hall ou Sala de Convivência normalmente é o local escolhidos para as apresentações grátis e vez ou outra, quem por ali passa, pode dar de cara com um grande nome de nossa música, praticamente papeando conosco, entre os transeuntes que passam, alguns indiferentes, outros prestando alguma atenção meio dispersa e aqueles que prestam a devida atenção, apreciando com gosto... Mais uma vez, retorno a questão da divulgação: informações mais abundantes talvez evitasse o constrangimento de artista e público dividirem o espetáculo com conversas paralelas em alto volume e gargalhadas, geralmente vindos das lanchonetes instaladas ao lado das Salas de Convivência...
Nesse último 19 de agosto, assisti pela segunda vez no mês, a um show da cantora Katya Teixeira, no SESC Vila Mariana. Surpreendeu de cara, entrando pela lateral do palco, cantando, sem microfone, uma cantiga indígena, homenageando assim, o evento Culturas Indígenas, que se realizava no local, nas proximidades. Terminou a cantiga solando “zéfinha”, sua rabequinha alagoana, com a emoção e sensibilidade costumeira aos que conhecem seu trabalho. Seguiu-se uma impressionante série de congadas, de tirar o fôlego, a ponto de minha filha, de 09 anos, comentar: “Pai, ela não vai falar???” “E precisa?”, respondi.
Nesse interim, observações curiosas: um velhinho, aparentemente indiferente, levantou-se e começou a sair lentamente. Quando estava quase fora, ela começou a executar o “Terno de São Benedito”, de autoria de Tino Gomes, com o violão e a aparição discreta da viola caipira de Ricardo Vignini e a percussão de Cássia Maria. A voz pungente caiu como um “incantamento” no ambiente e o velhinho “desinteressado” parou e se voltou na direção do palco, de onde vinha aquela melodia mágica. Tinha ainda uma expressão um tanto enfesada, que aos poucos foi se desanuviando. Ainda mirando o palco com olhinhos cintilantes, meio fechados, pôs a mão direita no queixo e assim ficou, até o fim, quando se sentou – felizmente tinha um lugar vago ao lado dele – e ficou até o final. Vez ou outra, ante o trinado da viola, os molejos da percussão e os volteios vocais de Kátya, ele até ensaiava uns requebros discretos, com os pés, mãos e cabeça..... Noutro momento, durante a execução de um samba-de-roda, uma garotinha de uns 02 anos escapou da vigilância materna e, livremente, ensaiou passos de dança.... Como é costumeiro para quem freqüenta o espaço, o “Corpo de Baile” entrou em cena várias vezes em animados e contagiantes cortejos, culminando com um “ciranda”, com a participação das crianças.
E teve mais, muito mais, apesar do exíguo tempo (70 minutos, contando o “bis”): chula baiana, tonta de Ubatuba (“seo” Chico deve ter sorrido e sacolejado de satisfação onde quer que esteja, pois a energia que dali emanou, alcançou lugares muito além do sertão paulistano!), terno-de-reis, um belo instrumental solo com a viola caipira do Ricardo...
E, tudo isso temperado pela presença, pelo viço, pela voz harmoniosa/doce/vigorosa dessa Katcherê, Mulher-Estrela-Estrela-Mulher que, compadecida de nossa solidão essencial, desceu à Terra para nos alegrar....
Portanto, o mortal que tiver oportunidade de os assistir, não vacile, pois é oportunidade unidade única: Katya Teixeira tem dois CDs gravados – Katcherê, de 1997 e Lira do Povo, de 2004 – e uma extensa participação em discos de Dércio Marques, Eliezer Teixeira, João Ba, Vidal França, Ney Couteiro, etc;
Ricardo Vignini é um jovem veterano, na estrada há muitos anos. Criador do projeto “Viola Turbinada”, de 2005, que visava "uma moda nova e celebrar a cultura caipira que andou escondida nos disfarces urbanos dos agroboys", responsável por trazer à cena talentos esquecidos – ou pouco mostrados – como Negão dos Santos, do Grupo Paranga, de São Luiz do Paraitinga;
Cássia Maria é um caso raro de talento. Nascida em Santo André, no ABC paulista, traz consigo o vigor e a alegria, talvez herança do Pernambuco natal de seus pais, dos folguedos e arrasta-pés levanta-poeira. Formada em Educação Artística, mas quem a vê em ação, pensa mesmo que seu talento é mais que natural.....
No entanto, fazendo valer algumas Leis da física, os espetáculos existem, não se pode lhes negar a existência. E para todos os gostos e bolsos. Até para os “sem bolso”. E quero falar justamente desses últimos, os “sem bolsos”, que, pelo menos algumas vezes por semana têm a opção de assistir a algum espetáculo de boa qualidade, gratuitamente. Chamo especialmente a atenção para os diversos SESCs espalhados pela cidade. O hall ou Sala de Convivência normalmente é o local escolhidos para as apresentações grátis e vez ou outra, quem por ali passa, pode dar de cara com um grande nome de nossa música, praticamente papeando conosco, entre os transeuntes que passam, alguns indiferentes, outros prestando alguma atenção meio dispersa e aqueles que prestam a devida atenção, apreciando com gosto... Mais uma vez, retorno a questão da divulgação: informações mais abundantes talvez evitasse o constrangimento de artista e público dividirem o espetáculo com conversas paralelas em alto volume e gargalhadas, geralmente vindos das lanchonetes instaladas ao lado das Salas de Convivência...
Nesse último 19 de agosto, assisti pela segunda vez no mês, a um show da cantora Katya Teixeira, no SESC Vila Mariana. Surpreendeu de cara, entrando pela lateral do palco, cantando, sem microfone, uma cantiga indígena, homenageando assim, o evento Culturas Indígenas, que se realizava no local, nas proximidades. Terminou a cantiga solando “zéfinha”, sua rabequinha alagoana, com a emoção e sensibilidade costumeira aos que conhecem seu trabalho. Seguiu-se uma impressionante série de congadas, de tirar o fôlego, a ponto de minha filha, de 09 anos, comentar: “Pai, ela não vai falar???” “E precisa?”, respondi.
Nesse interim, observações curiosas: um velhinho, aparentemente indiferente, levantou-se e começou a sair lentamente. Quando estava quase fora, ela começou a executar o “Terno de São Benedito”, de autoria de Tino Gomes, com o violão e a aparição discreta da viola caipira de Ricardo Vignini e a percussão de Cássia Maria. A voz pungente caiu como um “incantamento” no ambiente e o velhinho “desinteressado” parou e se voltou na direção do palco, de onde vinha aquela melodia mágica. Tinha ainda uma expressão um tanto enfesada, que aos poucos foi se desanuviando. Ainda mirando o palco com olhinhos cintilantes, meio fechados, pôs a mão direita no queixo e assim ficou, até o fim, quando se sentou – felizmente tinha um lugar vago ao lado dele – e ficou até o final. Vez ou outra, ante o trinado da viola, os molejos da percussão e os volteios vocais de Kátya, ele até ensaiava uns requebros discretos, com os pés, mãos e cabeça..... Noutro momento, durante a execução de um samba-de-roda, uma garotinha de uns 02 anos escapou da vigilância materna e, livremente, ensaiou passos de dança.... Como é costumeiro para quem freqüenta o espaço, o “Corpo de Baile” entrou em cena várias vezes em animados e contagiantes cortejos, culminando com um “ciranda”, com a participação das crianças.
E teve mais, muito mais, apesar do exíguo tempo (70 minutos, contando o “bis”): chula baiana, tonta de Ubatuba (“seo” Chico deve ter sorrido e sacolejado de satisfação onde quer que esteja, pois a energia que dali emanou, alcançou lugares muito além do sertão paulistano!), terno-de-reis, um belo instrumental solo com a viola caipira do Ricardo...
E, tudo isso temperado pela presença, pelo viço, pela voz harmoniosa/doce/vigorosa dessa Katcherê, Mulher-Estrela-Estrela-Mulher que, compadecida de nossa solidão essencial, desceu à Terra para nos alegrar....
Portanto, o mortal que tiver oportunidade de os assistir, não vacile, pois é oportunidade unidade única: Katya Teixeira tem dois CDs gravados – Katcherê, de 1997 e Lira do Povo, de 2004 – e uma extensa participação em discos de Dércio Marques, Eliezer Teixeira, João Ba, Vidal França, Ney Couteiro, etc;
Ricardo Vignini é um jovem veterano, na estrada há muitos anos. Criador do projeto “Viola Turbinada”, de 2005, que visava "uma moda nova e celebrar a cultura caipira que andou escondida nos disfarces urbanos dos agroboys", responsável por trazer à cena talentos esquecidos – ou pouco mostrados – como Negão dos Santos, do Grupo Paranga, de São Luiz do Paraitinga;
Cássia Maria é um caso raro de talento. Nascida em Santo André, no ABC paulista, traz consigo o vigor e a alegria, talvez herança do Pernambuco natal de seus pais, dos folguedos e arrasta-pés levanta-poeira. Formada em Educação Artística, mas quem a vê em ação, pensa mesmo que seu talento é mais que natural.....
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Katya Teixeira: voz, violão, rabeca, viola de cocho
Ricardo Vignini: viola caipira, voz
Cássia Maria: percussão, voz