Aos Pares Perfeitos do Café Fubá (II)

Conto as prateleiras. Uma, duas, três. Eu olho e encontro muito além de uma parede forrada de livros; um quarto e uma vida em reforma. De empréstimo (devolvo quando puder), um Patativa do Assaré repousa em versos secos sobre um Machado de Assis corpo e alma.

Esmagados pelos dois volumes das Obras Completas de Jorge Luis Borges, na pilha ao lado, Milton Hatoun, Conan Doyle e Edgar Allan Poe. Fernanda Young também está nessa, de encosto, e eu achei um porre. Budapeste, de Chico Buarque, engrossa aqueles que ainda estão pra ler. E pela metade, tantos outros: O amante, de Marguerite Duras; História do cerco de lisboa, de Saramago; O velho e o mar, de Hemingway; e por aí vai, Ítalo Calvino, James Joyce, Proust, filósofos, pensadores, escritores, poetas, romancistas, todos engordando uma fila que não me dá tréguas.

É sempre assim, eu me perdendo nas páginas que me consomem. As vinhas da ira, Crime e castigo, Travessuras da menina má, Olga, Vidas Secas, A hora da estrela, As intermitências da morte, O país das neves. Memória de minhas putas tristes, Boca do inferno, Evangelho segundo Jesus Cristo, América violenta. E de lá pra cá: Marguerite Yourcenar, João Guimarães Rosa, Drummond, Kawabata, Florbela Espanca, Rubem Fonseca. E de cá pra lá: Platão, Sófocles, Ovídio, Sartre, Nietszche, Joisten Gaarder. E no canto direito: Meninas normais vão ao shopping, meninas iradas vão à Bolsa, Entendendo o Mercado de Capitais, Getting started in futures. E no canto esquerdo: English grammar in use, Lezioni di lingua italiana, Manual de español, Méthode de français, Manual de redação e estilo, Atividade de linguagem, textos e discursos. Uma prateleira inteira dos acadêmicos, misturados aos livros dos amigos. E para relaxar: Mulher solteira procura homem impotente para relacionamento sério, O diário de Bridget Jones, Hary Potter.

Cante lá que eu canto cá, para a nova casa é a união que faz a força, para além dos pares perfeitos. O bandolim, único, está ganhando poeira na parte de cima do armário. Ainda sem a corda que arrebentei. É manco, como se os instrumentos, um dia, pudessem ser capengas. Não podem e não fazem mais do que esperar por mãos talentosas. É grupo. O bandolim, as cordas, as mãos. Tudo para além dos pares-perfeitos. As castanholas. Apenas me lembro de tê-las guardado num saquinho de tecido em algum canto onde se guardam coisas que ficam na memória. Um dia qualquer elas surgirão com a copla perfeita, olé!, e existirão para além de um passo doble à espera. É grupo. As castanholas, as mãos e a dança.

À minha frente um pote com materiais para desenho, lápis coloridos, pincéis, tesoura, régua e compasso. É grupo, estão para além de serem lápis e papel, pincel e tela, tesoura e tecido, régua e compasso. Para além de pares-perfeitos, como o pessoal do Café Fubá. Se para ontem eles eram os pares perfeitos, hoje eles estão além. São grupo. Turma. Uma equipe perfeita. O Oswaldinho e a Marisa, o Yo e a Jane, o Rui e a Sandra, o Catito e a Lúcia Helena, o Giba e a Lu, o Paulo e a Isa, o Cláudio e a Sandra, o Fernando e a Bia, o Manuel e a Lu, o Zé Maria e a Adriana, o Alcides e a Josefina, e mais todos aqueles que somam: a Sara, a Katya, o Cláudio, a Rosa, o Leandro, o Cleber, o Michel, o Alexandre, o Julinho, o Reinaldo, o Hamilton, o Marinho, e por aí vai. Letras sendo escritas à mão. Páginas sendo compostas aos berros. Literatura para além de um duelo. Palavras escritas no coração.

Não quero fechar o livro. Não quero virar a última página nem ficar à espera em cima da estante. Quero me manter assim, grupo. Cheia de caracteres, letras, sons e imagens. Signos. Como o time perfeito do Café Fubá, para quem eu repito, e não me canso: obrigada por fazerem parte da minha história e por serem pessoas especiais.
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