>>> Dezembro é mês bom para arrumar arquivos. Um, dois, três. E, pimba!
O passado presente me salta aos olhos. Tá! Tá! Tudo de novo então. <<<
Encontrei as castanholas dentro de uma caixa e lá pela quinta gaveta. Enroscadas, as castanheiras repousavam umas sobre as outras de modo a não fazer barulho. Nada. Nem o leve ranger dos tacos tampouco alguns sussurros despercebidos. Apenas a castanhola-macho e a castanhola-fêmea num profundo e silencioso par-perfeito. De onde eu estava parada, se esticasse os braços, poderia alcançar meu bandolim, que há tempos está sem voz. Para ser mais exata, desde o dia em que eu arrebentei uma de suas cordas por pura inabilidade. Não estiquei os braços, pois me pareceu um gesto estúpido que apenas faria destruir esta saborosa composição sem letra ou eco, as castanholas e o bandolim, meu dueto perfeito! Fechei os olhos para me lembrar de alguns choros que eu gosto e, quando dei por mim, rodopiava pelo quarto aos modos flamencos e com direito à roupa (um alegre vestido rubro-negro entalhado com anáguas), cabelos floridos, brincos de argolas e sapatos. Não sei bem em que instante troquei o choro pelas sevillanas. E se de fato eu não tinha os trajes, contentei-me com as castanholas que subtamente saltaram da gaveta para minhas mãos para compor uma copla fora de hora: TA-TA-A-RI-A-TA. De repente saltou-me aos ouvidos o som de uma viola afinada aos tons de um flamenco meio tímido, provocando um tremendo triângulo amoroso que me fazia rodopiar e bater las castañuelas sem parar, olé! Nesta confusão de ritmos e sopros que nem existiam, eu ria sozinha ao tocá-las com minhas mãos e dedos desajeitados. Eu ria e dançava igualmente sem jeito, o que me fazia rir muito mais, tocar muito mais castanholas, dançar e rir de novo. Espantando o que me era chato, apenas as boas coisas: as risadas com minha nova prima, as novas amigas "sex and the city" e o pessoal do Café Fubá. Páro de dançar e de rir a fim de escutar o bater das castanholas no seu descompasso sem métrica que se repete entre meus dedos e minhas mãos; que se alternam e intercalam. Que se fundem em vocábulos quentes e passionais, a castanhola-macho e a castanhola-fêmea num duelo corporal. Que perfeição o toque das castanheiras e o silêncio, a goiabada com queijo, a Marisa e o Oswaldinho, o Café Fubá. Que delícia o dois-prá-lá-dois-pra-cá do Yo e da Jane, a cumplicidade noite adentro do Rui e da Sandra, do Catito e da Lúcia Helena, do Giba e da Lu, os pares perfeitos do Café Fubá, que não precisam ser perfeitos nem nada, apenas existirem. O Paulo e a Isa, o Cláudio e a Sandra, o Fernando e a Bia, o Manuel e a Lu. A Adriana, a Sara e a Kátya com suas simpatias, o Cláudio com a viola, o Zé Maria e companhia. Provoco os últimos sons das castanholas, batendo-as ferozmente para em seguida apreciar-me no silêncio. Olho pela janela, o dia em ar e gesto me convida para uma dança como se há tempos esperava-me como seu par-perfeito. Vida, vida, vida, obrigada, daqui pra frente eu sigo contigo! Obrigada amigos do Café Fubá, por fazerem parte da minha história e por serem pessoas especiais. Um grande beijo e um passo doble, olé!
Fernanda.