FIM DE ANO: ORGANIZAR, LEMBRAR, COMEMORAR

Fim de ano, fim de temporada; pausa para recomeçar, mas antes disso – do recomeço – tudo fica em suspenso por um tempo. Por mais que se queira desligar-se da infindável azáfama voltada aos festejos, nunca podemos nos dizer indiferentes, pois, antes de tudo, é inevitável. Porém, são muitas as coisas inevitáveis, algumas legais, outras talvez merecessem uma “revisão de conceitos”... Por exemplo, as indefectíveis musiquinhas de Natal, cuja “vivacidade” me faz sentir como se fosse um bonequinho movido à pilha.... Ah, e eu que cheguei a achar John Lennon chato, com seu Happy Xmas. Contudo, sempre pode piorar e horas dessas, a Simone poderá invadir as paradas, com seu hit Enfim é Natal! No entanto, fazendo jus ao simbolismo de mudança e transformação que, reza a tradição, remonta à festas pagãs que celebravam o solstício de inverno (na Europa medieval!), sempre é bom manter olhos abertos.

Chegando em casa dia desses – depois de uma maratona por lojas e supermercados – eis que uma agradável me surpresa me apetece na caixa do correio: um pequeno pacote, que abro meio desinteressado, pensando tratar-se de mala direta... mas, ao abrir, uma preciosidade: um Cd que julgava perdido, o Baile do Menino Deus, com músicas de Antonio Madureira (ex-Quinteto Armorial e atualmente no Conservatório Musical do Recife) e letras de Ronaldo Correia de Brito e F. Assis de Souza Lima. São singelas canções de natal, do tempo de nossos avós, de uma época em as comunidades isoladas – efeito inverso da globalização – criavam sua própria cultura representativa. São 12 deliciosas cantigas, interpretadas por Geraldo Maia, Mirinha, Luciana Deschamps, Toni Veras e os temas trazem referencias aos simboios da Natividade (Romã, Romã), José e Maria (pais do Menino), Reis do Oriente, Anjo Bom, a Burrinha, não faltando os Caboclinhos, culminando com um Coral do Baile do Menino Deus. O belo presente-surpresa me foi enviado por minha comadre Cleide. Ouvindo o disco, reconheci ecos de umas cantiguinhas que minha mãe por vezes cantarolava...

Também por essa época, são inevitáveis as tentativas de, afinal, organizar a eterna bagunça; agora vai, tenho de começar o ano nos trinques, tudo certinho, CDs e livros organizados em ordem alfabética, por assunto, autor, etc. Começo pelos Cds e revejo alguns que andavam meio esquecidos: Antonio Jose Madureira com Rodolfo Stroeeter, Renato Teixeira (sonhos guaranis), Mario Gil (cantos do mar, letras de Paulo César Pinheiro), Mônica Salmaso e Paulo Belinatti com os Afro-Sambas, Vicente Barreto (Mão Direita), Zé Menezes (Relendo Garoto, com arranjos primorosos), Carlinhos Antunes, Egberto Gismonti cantando em Água e Vinho, Guilherme Rondon, Passoca com Sabiacidade.... Antes de começar minha prometida organização, pausa para uma pequena sessão de música...

Que bom re-ouvir Passoca no pouco conhecido trabalho Sabiacidade. Ali estão algumas pérolas, belíssimas homenagens à Sampa; “... no relógio da Paulista/ quatro horas da manhã/ Tá chegando no CEASA / Outra caixa de maçã!” (O Relogio da Paulista); Seo Barbosa, lembrando Adoniran. Em se falando de Sampa, como não mencionar O Trabalho, do não menos paulistano Wandi Doratiotto? E que tal um delicioso toque irônico de blues, com O Pombal “... o pombal da estação do trem/ tá ficando desabitado (...) Derruba a pombinha na pedrada!/ Espetinho frito/Na lata de marmelada!”

Bem, a seção com os Cds que estava meio abandonados, foi longe. Depois, era tempo de arrear meu cavalo, o Murzelo Alazão e dar uma “campeada”, tomar uma gelada nalgum boteco desse Sertão, pois o calor assim pede... A organização de CDs, livros e Lps, fica prometido para o início do ano... Feliz Ano Novo!

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