VIRADA!!!!

Agora sou eu quem sai na cola da Editora-Chefa Fernanda! Sei que não consigo ser tão brilhante quanto ela na descrição da Virada Cultural 2008, mas conto com satisfação minha breve experiência.

Antes de tudo, aleluias e graças aos céus por desta feita só ter acontecido ataques de riso e alegrias, nada de pccs ou de desânimos, pois isso não combina com a gente. Mais: esse evento já é um dos mais importantes do país e tem tudo para ser mundial – tive a felicidade de ver vários grupos de “gringos”, absolutamente embascacados com nossa alegria reinante, sem falar no talento dos artistas. Assim, realmente não será surpresa nenhuma se a Virada Cultural se tornar parte importante do calendário cultural do planeta, ao nível dos festivais de cinema de Cannes, Berlin, Sundance, etc. (Nem é preciso falar que a Virada tem tudo para superar os festivais de cinema pois é múltiplo!) bem, antes do excesso de entusiasmo, diga-se que a intenção não é competir com ninguém, pois os festivais de cinema tem seu público e charme específicos; porém, a Virada, justamente pela multiplicidade tem seu encanto ímpar. De parabéns estão os responsáveis, sejam os agitadores culturais e autoridades – de que partidos forem! – pela persistência do projeto! Não há dúvida de que esse ano foi um sucesso absoluto e a tendência é crescer.

Comecei o evento meio desanimado, pois não consegui marcar o encontro meus amigos do Ser-tão. Porém, como caipira também é forte e nunca desiste, arreiei meu cavalo, o famoso Murzelo Alazão e com a Musa à garupa, saímos mundo afora, de coração aberto!
Não fomos a nenhum evento específico. A intenção era realmente “ver” de perto o que acontecia, o que rolava nas ruas, nas praças, nos teatros, botecos e armazéns. Foi uma grande alegria ver toda aquela gente, multidões de todas as idades – famílias inteiras, crianças de colo! – circulando pelas ruas do Centro Velho, olhos brilhando, sorriso estampado, sem nenhum medo de ser feliz, literalmente! Desde a Praça da Sé, Quintino Bocaiúva, 15 de novembro, Praça Patriarca, um monte de gente alegre curtindo o som eletrônico, forrós, sambas; no Viaduto do Chá, as estátuas vivas interagindo com o público; no Vale Anhangabaú rolava um som que não consegui definir, mas se ouvia os risos, a alegria... Ingenuamente tinha ilusões de ver Egberto e Naná Vasconcelos no Municipal, mas lá chegando vi que até as escadarias estavam cheias. Tinha um telão e caixas acústicas gigantes e ali ficamos um bom tempo, curtindo Naná e devo confessar que valeu a pena, mesmo no telão. Tivemos o azar de, de vez em quando explodir ali dos lados um bate-estaca (eu não conseguia atinar de onde vinha) que acabava abafando o som que as vezes é delicado e tênue do Naná (ah, o problema de quem ouve música ruim é a incontrolável vocação para obrigar os outros a ouvir também, queira ou não! O bate-estaca surgia do nada, violentamente, aparentemente sem nenhuma razão clara e ficava ininterrupto até se cansarem, aparentemente... Respirava-se um pouco e recomeçava o tum-dun-dun-dun! Penso que aquele diacho deveria vir de algum carro, de um desses agro-boys ou algo do gênero!)

Dali passamos pela Praça da República, onde rolava rock, subimos pela Ipiranga, onde vimos uma apresentação de uma das Meninas – a magnífica Marina de La Riva - passamos pela Praça Roosevelt, nos vários espaços teatrais ali presentes – Satyros, Parlapapões – todos lotados e filas enormes, especialmente para ver Os 120 Dias de Gomorra! Ali, sentados nas cadeiras, várias personalidades ligadas ao teatro “formador de opinião”, igualmente dividindo espaço com o público, todos apertados, mas descontraídos e alegres. Na volta, na varanda do 1º andar do SESC 24 de maio, onde antigamente localizava-se a Mesbla, um grupo realizava performances dançantes ao som de cellos e violinos.....

Detivemo-nos com mais tempo e vagar numa apresentação do Grupo Minik Mondo e sua performance-instalação, na Galeria Olido. O Espetáculo Políssemos tem a proposta de transformar o espaço público como foco na dança. Tomaram os corredores da Galeria, as escadarias, o hall de entrada. Os atores-bailarinos se misturavam aos passantes – nós entre eles. Curioso ver o espanto e o fascínio das pessoas, às vezes o choque. Não sou especialista na matéria, por isso poupo a todos de tentativas desastradas de análise. Para mim, representavam de modo propositalmente caricato o que as pessoas fazem no dia a dia de uma metrópole: ler o jornal apressadamente, tomar café, fazer exercícios físicos, comer, tomar banho, fazer unhas, trabalhar, estudar, etc. As máscaras dos atores-bailarinos, a meu ver, é um espécie de espelho de todos nós, habitantes das polis, impregnados por todos os signos urbanos...Um grupo musical, com instrumentos pouco convencionais, fazia performances pontuais, a estranheza dos acordes como que preenchendo lacunas, ditando os ritmos, do mesmo modo que ocorre com os muitos sons do nosso dia-a-dia: carros, buzinas, alto-falantes. (Acho que o Tom Zé ia gostar muito desse tréin!). Alguns passantes – haviam filas enormes para as sessões de cinema – por vezes interagiam involuntariamente ou não com os atores, criando um efeito curiosamente harmonioso. Uma moradora de rua surgiu ao acaso no meio do grupo e incorporou de forma impressionante os muitos papéis: dançou, “desmaiou” no meio da rua, “correu”, “dormiu”, “roubando a cena” em vários momentos da trupe.

Terminamos a tour na Avenida Paulista, na Casa das Rosas, a tempo de ver Glauco Matoso anunciar que não era mais cego: leve estremecimento no público, antes de ele afirmar categoricamente: agora era uma “pessoa com necessidades especiais”, de acordo com as modernas técnicas lingüísticas politicamente corretas, em voga especialmente na assistência social.... Antes de voltar para casa, uma caneca de café do Armazém Caipira, ao som de violas. Pena que nossos amigos Victor Batista e Cláudio Lacerda já tinham dado sua canja....
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