Baião de dois com Patativa do Assaré

As pessoas sábias, as mais experientes costumam dizer que quem pode manda e quem não pode obedece. A Editora Chefe não “mede” as palavras: “O Joca fez um brilhante e sensível texto sobre o Pativa do Assaré e agora quero que escreva sobre o Aconchego do Assaré. E isto antes de esbanjar charme no “iutubi”. Dura? sim, mas sem perder a ternura jamais. E sou presenteado com a missão das mais prazeirosas e agradáveis. Por ser hora do almoço resolvo preparar a matéria ao vivo e direto na fonte lá nas bandas da Vila Monumento, nas vizinhanças do ...(choro saudoso)... Café Fubá. Aconchego do Assaré, que também atende por Cantinho do Patativa, é a casa do Ribinha, que transformou-a em restaurante e num quase Centro Cultural das tradições nordestinas, em especial de Assaré a sua terrinha natal. Rua totalmente residencial - vizinhos conversando nas calçadas – a referência é um portão de madeira. Ele diz que, em respeito aos vizinhos, "depois das dez da noite até a geladeira faz silencio". Ao toque da campainha a simpática e rotunda (estou aprendendo com o Joca a usar palavras bonitas) figura aparece. “ Ô Ribinha tem baião?” “Só se for de dois e sem sanfona”. Pronto. Se achegar, sentar, pedir a Vale do Cariri, uma geladinha, um queijo coalho na chapa antes da definição do que comer: o baião de dois – o melhor deste sertão - e acompanhado de que? galinha, carne seca, mandioca frita, cuzcuz? ou a buchada, ou um carneiro?. A paulistana e urbana Fernanda e a pernambucana e filha de cearense lá do Crato (cidade vizinha de Assaré) Adriana se incubem da tarefa com a concordância caipira do Giba, o da Viola e da Lu, a Roqueira.

Conheci o Ribinha lá pelos anos oitenta em Assaré quando – emoção das emoções – também conheci o Patativa e tive o privilégio de uma manhã inteira ficar conversando e principalmente ouvi-lo declamar suas criações, as mais belas imagens do sertão nordestino e do povo brasileiro. Voltando ao baião de dois. Ribinha, que também foi muito amigo de Luiz Gonzaga e com quem produziu muitos trabalhos, foi quem apresentou Patativa ao sul maravilha. É o que costumam chamar de Agitador Cultural, está sempre divulgando o trabalho dos artistas nordestinos, tem um grande material constituido de literatura de cordel, discos, fitas de vídeo, fotos, edições especiais de livros e, especial mesmo, um belissimo com fotos de Assaré e textos do Patativa.
Ribinha além da sua vivência pessoal é um estudioso da cultura nordestina e o Joca pode, tranquilamente, colocar seu nome ao lado dos desconhecidos Dom Quixotes citados em seu texto anteriormente semeado neste sitio.
Enquanto “rola” a degustação, a bebidinha, uma temperadinha com manteiga de garrafa, molho de pimenta e
farinha de mandioca, muita conversa e muito riso (há momentos em que se faz nececessário “ter muito riso e pouco siso”). Quando os clientes das outras mesas dão uma folga e, se “provocarmos” o dono da casa, podemos ouvir a declamação de textos de Patativa, de outros autores e também seus. Ou ouvir uma das suas criativas respostas “Ô Ribinha, tem cigarro solto?” “Nem solto e nem preso”. A Procuradora da Justiça: "Senhor Riba, a comida estava ótima, o atendimento muito bom e notei que o Senhor não usa toalhas nas mesas" "Doutora, me responda, toalha na mesa é igual peito de homem. Serve prá quê?".
Nada mais foi dito e nada mais foi perguntado. Arquive-se.

Hora da sobremesa e não titubeio: peço o sorvete cearense.

Adbox