Bar do Seu João

Sem pretensão, ou intenção, de iniciar a nossa conversa com uma polemica eu tenho cá comigo que o bar, o boteco, o barco (onde muitos ficam a balançar e andam, depois, com dificuldades quando em terra firme) é uma instituição paulistana. Proclamo a minha isenção, até porque sou originário - e de voltar sempre - lá das bandas do interior. O Giba, o da Viola, profundo conhecedor desses cantinhos dos vários cantos do Brasil, muitos com cantos e violas, acha que é uma instituição globalizada. Conta de uma viagem, a serviço, em Nashiwille quando, em dos bares de lá, teve a oportunidade de tocar a sua violinha brasileira com os “caipiras americanos” de lá. Violinha carinhosamente chamada de Lu, homenagem mais que explicita à nossa querida Luciana e a B.B. King e sua histórica guitarra Lucille. Coisas de fã.

O bar do Seu João é um desses cantinhos frequentados pelos moradores do bairro, por ex moradores que provaram da água que passarinho não bebe e sempre voltam. Também os que vem de longe depois que foram apresentados por algum amigo. Autêntico representante do Vale do Jequitinhonha e alto executivo do mercado financeiro, o Mineiro assina o ponto por volta das sete da noite após o estafante dia entre o sobe e desce da Bolsa. É do time dos que moram em outros bairros e que o Joca chama de habitue. O Mineiro é o unico que toma wiskey e perguntado por que, se é mineiro: “ porque aqui não tem a cachaça da boa, uai”. Quando alguém chega cumprimenta pessoalmente a todos e na hora de ir embora o mesmo ritual.

Nascido na Ilha da Madeira, de onde chegou esta semana após um mês de ferias, Seu João tem o simpático e “alegria em pessoa” Marquinhos como auxiliar de atendimento, pois não é nem empregado e nem garçom na definição prática dos cargos. É pequeno, não o Marquinhos, o bar. Não tem mesas e cadeiras, apenas cinco daqueles bancos redondos presos ao chão. Quando chegam as mulheres, se os bancos estão ocupados e nenhum dos homens cede o lugar, Seu João “delicadamente” pede a eles a gentileza de ficarem de pé. Alguns botequeiros de fina estirpe se orgulham e gostam de mostrar o cotovelo calejado dos balcões. O Niltão se orgulha e gosta de mostrar um avantajado calo no joelho, consequência de horas e horas sentado nos bancos extremente apertados. Se os bancos e as escadas das portas estiverem ocupados e para não ficar de pé, o que é normal, resta a opção da interiorana prácinha em frente.

Mas, afinal, o que tem o Bar do Seu João?. Tem o lanche, ou sanduiche, que a Fernanda, a Lenda, aprovou desde o primeiro dia e não consegue comer apenas um; que também é o preferido da Kátya Teixeira após os shows. A calabresa na chapa, a melhor do Brasil, que a Cláudia pede sempre para acompanhar a cervejinha; a caipirinha de maracujá, única, a preferida da Adriana. Todos preparados em um cerimonial especial de Seu João enquanto conversa com alguém. Até hoje ninguém sabe e tem coragem de perguntar quem é o interlocutor invisivel.

Recentemente o bar recebeu a visita do nosso amigo Miqui (alemão das boas origens de nome Michael e sobrenome impronunciável, no bom sentido) que deu nota dez ao quarteto cerveja, calabreza na chapa, caipirinhas de maracujá e de limão. Não conseguiu chegar a uma nota de consenso entre as caipirinhas. Preferiu deixar o desempate para a próxima viagem e em melhores condições.

Miqui, o primeiro da esquerda, (não é difícil identificar)

O ítem limpeza: é o boteco mais limpo que possa existir. Tudo brilha e, não é força de expressão, não há cinzas de cigarros no chão, os vidros e balcão limpinhos. Toda noite, após o abaixar das portas, a filha do seu João dá início ao processo de total limpeza que continua de manhã ao substituir o pai que sai para a caminhada diária, e na hora do seu almoço. Até as folhas das plantas são limpas.

Serviço: Fernanda, a Lenda; Kátya Teixeira; Cláudia e Adriana autorizaram o uso de seus nomes e depósito dos cachês a que tem direito nas contas das Entidades Sociais administradas pelo Jica e Turcão.
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