Corria ano da graça de um mil novecentos e oitenta e um, a avenida era e ainda é a Paulista, o bar era e ainda é o Puppy. Entre uma conversa e uma cervejinha o Doutor Wilson comentou que um novo garçom estava começando: “É mais um ‘ceará’ chegando”, “sou de Tauá”. Só com o passar do tempo e, muito tempo depois com mais conhecimento, ficamos sabendo que na verdade é de Arneiróz que, como diz o Ribinha do Assaré, “é uma das encruzilhadas de Tauá”. Era o Vicente que chegava e, o mais importante, hoje nosso querido amigo.
Estratégias são discutidas pela galerinha
Enquanto rola boa comida, boa conversa, histórias do Ribinha, a galerinha se reune e traça as estratégias para o combate à fome. Começam com a palavra de ordem “queremos comer” e ameaçando uma passeata pelo local. Os adultos, bons visitantes, em respeito aos demais clientes e cientes do poder de persuassão infantil, decidem por bem bater em retirada e como destino o primeiro Mac Donald.
Os anos se passaram, centenas de alunos do Objetivo, dezenas de futuros e atuais jornalistas formados pela Casper Líbero, muitos funcionários da TV Gazeta e muitos e muitos frequentadores da Avenida Paulista tem no Vicente uma referência.
Como bom cearense, nunca perde um forró pé de serra, uma boa comida da terrinha e uma boa conversa. “Ô Vicente, você precisa conhecer o Ribinha de Assaré, o melhor baião de dois de São Paulo, é na casa dele e você vai gostar”. “Quero conhecer, vamos marcar com o Doutor e o Alfredinho”.
Ai começa a complicação para combinar as folgas do Vicente com os plantões do Doutor, o futebol de manhã (nos dias de folga), a proibição de beber e comer certas comidas quando está tomando remédios prá gota e a disposição do Alfredinho. Uma histórinha paralela: ficar esperando o Alfredinho é como se sentir um personagem de Samuel Beckett em Esperando Godot. Há alguns anos o Doutor Wilson convidou o Alfredinho para padrinho de sua filha mais nova com a cerimonia marcada para um sábado às onze da manhã. Todos presentes menos o futuro padrinho. Minutos de tensão, conjecturas acerca do atraso, telefonemas, expectativa em todo taxi que passava. A pressão do padre para cumprir a agenda foi mais forte e uma rápida reunião familiar decidiu pela convocação do Vicente para a honrosa escolha. Vem daí a jurisprudência formada ou, como diz o Joca, recomenda a prudência, de jamais convidar um boemio para ser padrinho antes do anoitecer. Anos depois Vicente convida Alfredinho para ser padrinho do filho Léo e, precavido como bom sertanejo, vai buscar o escolhido um dia antes e não deixa sair de sua casa.
Volta ao baião de dois com Vicente conseguindo aparar todas as arestas. “E ai?, vamos comer aquele feijão amanhã?, vamos lá com umas dez pessoas”, “ô Vicente, o lugar é pequeno e para um almoço de sábado com tanta gente temos que pedir prá reservar”. Ligo prá Ribinha avisando que um cearense vai conhecer sua casa e uma reserva para dez pessoas. Feliz em receber um conterraneo: “pode vir que a gente se ajeita.”
A comitiva chega com seis adultos e cinco crianças curiosos com o lugar, uma casa e não o habitual restaurante a que estão acostumados, a começar pela necessidade de tocar uma campainha para serem recebidos pelo dono. O que comer: baião de dois, carne seca, galinha, cuzcuz, carneiro. A buchada, informa Ribinha, começou a ser preparada na noite anterior e não deu tempo de ficar pronta. Sinto um ar de alívio em uma das convidadas. Vicente, velho conhecedor dos recantos cearenses e já se sentindo em casa, pede uma boa porção de queijo coalho na chapa, uma cerveja e uma Vale do Cariri. Sua esposa, a Tonha, mineira lá de Rezende Costa experimenta e aprova a cachacinha. Uma das mães, ao ver o ar de pouco caso e sabedora do gosto intantil urbano: “ e para as crianças?, não tem uma massa, pode pedir um sanduiche?”. “Não, não tem e macarrão no Ceará só na semana santa.” Vicente, as filhas adolescentes “nem quiseram saber de vir”, ainda tem a esperança de transferir ao filho o gosto pelas comidas da terra. “ O Léo come um pouco de carne, né filho?”. Não, não come. Acho que sei a origem da aversão do menino para carne. Trauma infantil: ele tinha uns dois anos o seu padrinho avisou que iria levar um presente para o afilhado. Chega, os pais chamam o filho: “o padrinho trouxe um presente”. Leózinho todo feliz desembrulha o presente, tenta descobrir para que serve, fica olhando alguns minutos e, sem entender nada, se afasta. Os pais mais abestalhados que o filho: “dar de presente uma churrasqueira elétrica para uma criança de dois anos Alfredinho?”.
Sem nada para comer as crianças tentam um pouquinho de arroz, uma mordinha na carne, no queijo assado e, na ausência do que comer, muitos e muitos refrigerantes. Houve-se um protesto aqui, outro ali: “mãe to com fome”, “mãe aqui não tem nada prá gente comer?”, “bem que poderia ser no shopping”, “então eu quero sorvete”.
Ai começa a complicação para combinar as folgas do Vicente com os plantões do Doutor, o futebol de manhã (nos dias de folga), a proibição de beber e comer certas comidas quando está tomando remédios prá gota e a disposição do Alfredinho. Uma histórinha paralela: ficar esperando o Alfredinho é como se sentir um personagem de Samuel Beckett em Esperando Godot. Há alguns anos o Doutor Wilson convidou o Alfredinho para padrinho de sua filha mais nova com a cerimonia marcada para um sábado às onze da manhã. Todos presentes menos o futuro padrinho. Minutos de tensão, conjecturas acerca do atraso, telefonemas, expectativa em todo taxi que passava. A pressão do padre para cumprir a agenda foi mais forte e uma rápida reunião familiar decidiu pela convocação do Vicente para a honrosa escolha. Vem daí a jurisprudência formada ou, como diz o Joca, recomenda a prudência, de jamais convidar um boemio para ser padrinho antes do anoitecer. Anos depois Vicente convida Alfredinho para ser padrinho do filho Léo e, precavido como bom sertanejo, vai buscar o escolhido um dia antes e não deixa sair de sua casa.
Volta ao baião de dois com Vicente conseguindo aparar todas as arestas. “E ai?, vamos comer aquele feijão amanhã?, vamos lá com umas dez pessoas”, “ô Vicente, o lugar é pequeno e para um almoço de sábado com tanta gente temos que pedir prá reservar”. Ligo prá Ribinha avisando que um cearense vai conhecer sua casa e uma reserva para dez pessoas. Feliz em receber um conterraneo: “pode vir que a gente se ajeita.”
A comitiva chega com seis adultos e cinco crianças curiosos com o lugar, uma casa e não o habitual restaurante a que estão acostumados, a começar pela necessidade de tocar uma campainha para serem recebidos pelo dono. O que comer: baião de dois, carne seca, galinha, cuzcuz, carneiro. A buchada, informa Ribinha, começou a ser preparada na noite anterior e não deu tempo de ficar pronta. Sinto um ar de alívio em uma das convidadas. Vicente, velho conhecedor dos recantos cearenses e já se sentindo em casa, pede uma boa porção de queijo coalho na chapa, uma cerveja e uma Vale do Cariri. Sua esposa, a Tonha, mineira lá de Rezende Costa experimenta e aprova a cachacinha. Uma das mães, ao ver o ar de pouco caso e sabedora do gosto intantil urbano: “ e para as crianças?, não tem uma massa, pode pedir um sanduiche?”. “Não, não tem e macarrão no Ceará só na semana santa.” Vicente, as filhas adolescentes “nem quiseram saber de vir”, ainda tem a esperança de transferir ao filho o gosto pelas comidas da terra. “ O Léo come um pouco de carne, né filho?”. Não, não come. Acho que sei a origem da aversão do menino para carne. Trauma infantil: ele tinha uns dois anos o seu padrinho avisou que iria levar um presente para o afilhado. Chega, os pais chamam o filho: “o padrinho trouxe um presente”. Leózinho todo feliz desembrulha o presente, tenta descobrir para que serve, fica olhando alguns minutos e, sem entender nada, se afasta. Os pais mais abestalhados que o filho: “dar de presente uma churrasqueira elétrica para uma criança de dois anos Alfredinho?”.
Sem nada para comer as crianças tentam um pouquinho de arroz, uma mordinha na carne, no queijo assado e, na ausência do que comer, muitos e muitos refrigerantes. Houve-se um protesto aqui, outro ali: “mãe to com fome”, “mãe aqui não tem nada prá gente comer?”, “bem que poderia ser no shopping”, “então eu quero sorvete”.
Estratégias são discutidas pela galerinha