O " New York Times"Não deu uma linha
A "BBC"de LondresNem uma palavra
Mas ontem no Xingu (Bis)
Um indio se afogou
E um guarda-marinho
Se atirou nas águas
Para salvar sua vida
Na mesma hora
Um favelado da Rocinha
Que tinha sete filhos
Arrumou mais um
Era um menino de olho azul
Que tinha sido abandonado
Nú numa avenida
(A Noticia, de Vicente Barreto e Celso Viáfora)
Nú numa avenida
(A Noticia, de Vicente Barreto e Celso Viáfora)
Por esses dias, algumas notícias chegaram, por ouvir dizer, aqui, pelo sertão.
O presidente frances, acompanhado da bela Carla, dublê de cantora e modelo, causou furor entre os francólogos brasileiros, deixando ouriçadíssima a parte brasileira que fala francês, saudosos dos velhos tempos em que uma comitiva de intelectuais Franceses por aqui aportou, preenchendo os sonhos da elite aristocrática...
Mas Sarkozy com a Bela Dama a tiracolo, oficialmente veio protocolar o lançamento oficial do França.br, o Ano da França no Brasil a partir de abril de 2009. (em retribuição L’Année du Brésil en France, em 2005). De penduricalho ao grande evento, alguns artistas, talvez já meio cansados da estrada, como o ex-ministro Gil e o eterno Azsnavour...
Discursos espirituosos, lindos sorrisos. Comitês, projetos, comissariados, câmaras setoriais, tudo em prol da cooperação e intercambio cultural entre os dois países.
Porém, à boca pequena se ouviu uns boatos: a história de dois meninos sul-americanos, Huguinho e Luizinho, metidos num impasse: Huguinho gosta de jogos de guerra e ganhou alguns brinquedinhos; Luizinho também queria brincar, mas não tinha brinquedos. Bem que tentou com o Tio Donald, até com o Tio Sam, mas quem acabou resolvendo lhe presentear com um joguinho completo de batalha naval foi o chevalier Sarkozy, empenhado, em nome do mundo civilizado a restabelecer o equilíbrio regional. Luizinho, claro ficou muito feliz com os submarinos e helicópteros, pois se assim não fosse, teria de convidar Huguinho para uma partida de futebol ou beisebol, talvez com a participação dos vizinhos de ambos, o Evinho e Rafaelito.
Farto dessas velhas notícias, montei meu cavalo, o Murzelo Alazão e saí por aí. Num Albergue na cidade (o ABECAL), na antevéspera do natal, vi uma peça baseada livremente n’O Pagador de Promessa, de Dias Gomes, escrita, dirigida e interpretada pelos próprios usuários da instituição que abriga homens de rua, “mendigos”, para ser politicamente incorreto. Sem dar ouvidos àqueles que de antemão podem alegar que talvez eu esteja estetizando a miséria, devo dizer que a peça, dentro das limitações, foi muito bem feita. A platéia, quase toda composta de “homens de rua”, riu, bateu palmas e se emocionou com a história. O que se pode esperar de um espetáculo além de divertir e emocionar? Talvez possa se desejar que estimule a reflexão, mas, francamente, quem pode querer “refletir” numa antevéspera de Natal, com o cheiro de frango assado inundando o ambiente?
Um curioso improviso, isso sim, fez-me pensar: num dado momento em que deveria falar do “peso da cruz”, um dos atores afirmou: “O peso da Igreja...” ao que o colega prontamente redargüiu: “Também, com tantos dízimos, haja lombo pra carregar a Igreja!”, para inesperada explosão de riso da platéia e dos próprios atores. Improviso, a fazer corar de inveja o pessoal do Actor's Stúdio!
No Natal, pedi a Papai Noel ou a São Nicolau, que faça o Brasil olhar por um instante instantezinho só, para sua gente, para seus artistas, sua história. Que olhe para o interior, Brasil! Que olhe também para o céu, claro. E, que haja a semana da França no Brasil, mas que se mostre aos franceses, um Brasil que esteja além do lugar comum ou das manjadas e carimbadas figuras que se viciaram na inevitável roda mágica, onde, “Quem está dentro não sai, quem está fora não entra!”
Outro dia me falaram das inevitáveis e enormes vantagens de uma “colonização francesa”; o espírito de Caymmi tomou conta de mim, pois não fiquei com nenhuma vontade de fazer uma longa revisão histórica que transformasse os franceses em navegadores de vanguarda! Só consegui pensar que se os franceses nos tivessem colonizado, talvez não tivéssemos Congadas ou Folias de Reis por aqui. E Darcy Ribeiro não teria escrito o livro “Aos Trancos e Barrancos: Como o Brasil Deu no Que Deu”.