Dizem que a cidade é o último redulto genuinamente caipira do Estado de São Paulo. É que nos seus tempos de vila, a cidade funcionou como um entreposto de tropeiros. Dizem que, e eu boto fé! E das coisas que vão dizendo, há uma gente que caminha na anca bem uns 173 quilômetros para a banda de lá (no meinho da Serra do Mar e lá pras bandas da estrada Oswaldo Cruz, sanitarista ilustre morador da cidade) só pra dar aquela conferida na terra de Elpídio dos Santos, lembrado aqui em outras ocasiões. Diz aí José Maria, que eu digo aqui!
Dizem de fato comprovado que lá tem o melhor carnaval da região. Por conta das marchinhas. Dizem que, durante anos, um padre bem carola proibiu o festejo dizendo em boa crendice popular que cresceriam chifres e rabos em quem pulasse o carnaval. Diga aí, que eu digo aqui: o povo luisense virou motivo de piada na região, até que, em 1981, um grupo ligado à prefeitura resolveu resgatar a festa, mantendo a tradição dos antigos foliões. E já sendo São Luis do Paraitinga uma cidade de músicos, estes resolveram organizar um "Festival de Marchinhas", convite extendido à população para que ela criasse suas próprias composições. Hoje, mais de 1500 marchinhas já embalaram as ruas da cidade. E como a coisa deu tão certo, lei é lei, nem tente querer escutar funk, axé, samba, sertanejo ou qualquer outro tipo: por decreto municipal, durante os dias de carnaval, só é possível escutar, tocar, cantar as marchinhas carnavalescas. E não é qualquer uma não. Também não cai no gosto Mamãe eu Quero e Cia. Lá é coisa de festival. Tá dito!
Dizem também, já que esse povo é de prosa boa, que o típico caipira - o 'capiar', o cabloco, o matuto - caiu nas graças de Monteiro Lobato através do personagem Jeca Tatu e que Amacio Mazzaropi encarnou os estereótipos com muita propriedade. Diga aí José Maria que eu digo aqui, mas só depois da saudação de Juca Teles:
"Respeitável público do sertão das cotias, hoje estamos aqui para convidá-lo a participar das festividades de momo. Como viver setindo a passagem do tempo? Do céu, do purgatório e do inferno, ninguém escapa. Sabe por que?" [Clique aqui para ouvir o audio desta e de outras marchinhas]
É uma incitação á farra! Sábado de carnaval, ao meio-dia, um senhor de fraque, cartola, gravata e tamancos comanda a festa. Juca Teles, bloco carnavalesco da cidade, representa o resgate e homenagem a um personagem singular: Benedito Souza Pinto, o Juca Teles original. Dizem que ele era coroinha e sempre ajudava a organizar as festas da cidade, não só o carnaval. Tinha festas religiosas, a malhação do Judas e várias atividades. Quando se tornou oficial de justiça, passou a circular pela cidade inteira.
24º Festival de Marchinhas
Este ano é o ano do 24º Festival de Marchinhas da Cidade, cujas eliminatórias aconteceram neste último fim de semana, 23 e 24 de janeiro. Quem foi lá para conferir, foi. Quem não foi, no proximo dia 31, sábado, terá a grande final com a apresentação das 9 marchinhas selecionadas pelo juri. Eu fui. E torço pela marchinha Diz aí (viu, José Maria, diga aí, que eu digo aqui) de um povo bem bacana, lá de Itatiba.
A Banda Namoradeira
Diz aí está sendo defendida pela Banda Namoradeira que pesquisa e retrata por meio de seu repertório o universo festeiro da cultura caipira. Bom, muito bom! Clap! Clap! No início o grupo se reunia em um local onde havia uma Namoradeira de palha, para reviver e experimentar a sonoridade da roça, que sempre fez parte da identidade de cada um deles, e assim surgiu o nome da banda.
Flertando com festas profanas, como o Carnaval de Marchinhas de São Luis do Paraitinga-SP, abençoados pela cultura religiosa das Congadas e Folias de Reis do Estado de São Paulo e Minas Gerais e retratando em versos e modas sua identidade cultural, o grupo segue com suas pesquisas. A Namoradeira preza tudo que é de raiz, aquelas músicas que pertencem ao povo, mas também traz em seu repertório músicas próprias e de compositores que são referências para o seu trabalho.
É só abrirem uma brechinha para a cultura popular que a Namoradeira já chega festando! È, deve ser assim, então tá, digam aí, que nós, do ser-tão paulistano dizemaos aqui! [Clique aqui para ouvir o áudio da marchinha].
A terra das lendas
Dizem por aí que São Luis do Paraitinga reúne o maior número de contadores de “causo” por metro quadrado do país. As histórias passadas de boca em boca fazem com que tradições folclóricas e religiosas percorram os séculos. O personagem do Saci é herói local: uma lei municipal instituiu o “Dia do Saci”, comemorado todo 31 de outubro. Enquanto o resto do mundo celebra o Halloween, São Luis defende o folclore nacional contra a invasão cultural das bruxas importadas do primeiro mundo. É a explicação que está no decreto.
E dá-lhe festa. A do Divino, que acontece sempre 50 dias depois da Páscoa, tem duração de 10 dias e reúne os católicos mais fervorosos da região. Novenas, bandeiras coloridas e procissões celebram o Espírito Santo. Mas os turistas querem saber mesmo é do “Afogado”, comida típica feita de carne de vaca de segunda, refogada e servida de graça a todos os que acompanham a festa.
E tem mais: Congada, Dança de Fitas, Folia de Reis, Pastorinhas, Catira e Serestas, celebrações folclóricas que fazem, sim, de São Luis do Paraitinga o último reduto caipira do Estado de São Paulo.
Você ainda não foi dar um pulo em São Luis do Paraitinga? Então vá, e não deixe de experimentar o Afogado, comida típica da região. Diga aí José Maria, que eu digo aqui!