A Música Caipira e o Crime de Amor

Para muitos, e que digam meus amigos violeiros - e que eles não me matem depois desta postagem -, a música caipira transmite emoção e sentimento. Para Rubem Alves, no programa Sempre Um Papo exibido em 11 de novembro de 2008, a música caipira é motivo de crime passional. Eu a acho demasiadamente triste, e muitas delas colocam a mulher num lugar que não me agrada, a imagem da caboclinha inocente. É como se voltássemos ao tempo das tragédias antigas. E aqui é bom lembrar, o conceito de tragédia que a gente vive hoje é justamente o resultado desta invenção grega. Antes, tragédia não existia. Faz parte dos mitos, e muitos deles a gente segue mesmo. Da mesma forma como antes de ser nomeado, o amor tampouco existia. Mas lá em Paraíso, novela das seis, ele está lá: o filho do diabo e a santa. Crendices. Culturas. Regionalismos. E com este fuá todo, a gente vai traçando a história de um povo. O que é de muito gosto. Fascinantes, tanto quanto as tragédias. Vale um pensamento, vale um sentido, vale um resgate cultural. E para a reflexão, a voz transcrita do homem:

“Eu acho que muito crime de amor é cometido por causa da música caipira. (risos da platéia). Eu vou explicar pra vocês por que. Eu vou explicar pra vocês por que. Porque a gente se identifica ... Quem gosta de música caipira se identifica com a música, e você ... a música vem contando a história ... de uma caboclinha inocente, sempre aquela mesma história e no final vai, ela vai embora ai o homem vai lá e mata a caboclinha inocente , que coisa mais trágica, a viola ai toca (risos da platéia), aquele negócio, então, aquela coisa ...

Isso não é brincadeira, isso cria um padrão dentro da gente. Sabem, as histórias ... as histórias criam padrões, porque nós somos feitos de histórias. Se você quiser uma outra palavra, feitos de mito. Cada um tem um mito, e a gente segue o mito. Então o mito que não suporta o amor trágico, o mito que faz o amor trágico, dependendo da história. Eu vou dar um exemplo pra vocês:

No passado a mulher tinha que casar virgem, fazia parte do script. Se ela não fosse virgem ela estava desgraçada e havia crime por causa disso. Hoje é ao contrário, se ela for virgem, o parceiro vai reclamar que ele vai ter muito trabalho. O script mudou. As nossas emoções deslizam nos sulcos das palavras, daí a importância da música, da leitura, porque, é isso, a música, a leitura, os mitos ... os mitos nos fazem, e nós vamos, temos a tendência de seguir os mitos ou as músicas caipiras dizem”.

Rubem Alves (ver vídeo)


E você, que acompanha esse blogue, que gosta de viola, que curte a cultura regional, o que você acha da música caipira?
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