Por ocasião da Copa do Mundo de 2014, muito já se fala a respeito dos prováveis símbolos ou mascotes, haja visto a campanha em prol do Saci, muito justa por sinal. Acredito que a viola caipira poderia ser inserida igualmente nesse contexto, se não como “o” símbolo, mas pelo menos como um “dos” símbolos nacionais. A questão da “identidade” nacional é bastante complexa. Como se não bastasse as clássicas divisões campo/cidade ou litoral/interior, mesmo que sejam cada vez mais diluídas sob o efeito da globalização, por toda a parte encontramos miríades de ritmos, cada um deles refletindo aspectos importantes do que se poderia designar “identidade nacional”: são diversos tipos de samba (rural, de roda, de quintal, do morro), o chôro, o fandango, congadas, lundus, os “bois”, caboclinhos, maracatus, cocos, catiras, chamamés, bossa-nova, baião, marchas-rancho, canções-rancheira, xotes, música missioneira, etc, etc, etc. Qualquer desses ritmos ou se possível, todos eles, desfilando numa abertura de Copa do Mundo ou de Olimpíada, seria oportunidade de ouro para que o mundo conhecesse nossa riqueza musical... No entanto, a julgar pela amostra dos Jogos Panamericanos, temo que a “representatividade” da cultural nacional seja a critério da emissora que deterá os direitos de transmissão e então, temo que os breganejos ou sertanojos estejam na comissão de frente, destacando as falsas “duplas caipiras” compostas por agro-boys e os grupos de pagode ou axé... vixi!
A viola e os violeiros nos últimos anos, tem cada vez mais alcançado destaque nos meios culturais, sem que seja por isso considerado exótico. Ainda é um sonho, mas que a cada vez se aproxima de uma valoração aceitável. Nada mais justo, pois a viola, por incrível que pareça, é um instrumento, cuja utilização faz a difícil ligação campo/cidade, pois originalmente era um instrumento tocado na Corte – na verdade, se tratava da viola de arame – e com a chegada do moderno violão, aos poucos foi sendo relegada à marginalização, até ser “exilada” no “sertão profundo” – não confundir com o sertão profundo de que fala Elomar ou mesmo Guimarães Rosa ou ainda Ariano Suassuna, cada qual a seu modo. Talvez mais adequado seja dizer “interior profundo”, pois quando se fala “sertão”, o mesmo nos remete a um modo especifico de pensar e ser no mundo ( sertão é uma pátria dentro da pátria, conforme afirma Elomar), tema para outras incursões...
A viola e os violeiros nos últimos anos, tem cada vez mais alcançado destaque nos meios culturais, sem que seja por isso considerado exótico. Ainda é um sonho, mas que a cada vez se aproxima de uma valoração aceitável. Nada mais justo, pois a viola, por incrível que pareça, é um instrumento, cuja utilização faz a difícil ligação campo/cidade, pois originalmente era um instrumento tocado na Corte – na verdade, se tratava da viola de arame – e com a chegada do moderno violão, aos poucos foi sendo relegada à marginalização, até ser “exilada” no “sertão profundo” – não confundir com o sertão profundo de que fala Elomar ou mesmo Guimarães Rosa ou ainda Ariano Suassuna, cada qual a seu modo. Talvez mais adequado seja dizer “interior profundo”, pois quando se fala “sertão”, o mesmo nos remete a um modo especifico de pensar e ser no mundo ( sertão é uma pátria dentro da pátria, conforme afirma Elomar), tema para outras incursões...
O interior profundo é aquele mundo isolado, vasto, esquecido de todos, onde a linguagem e os saberes com os quais vêem e interpretam o mundo em torno de si advêm da observação da natureza: cantar de pássaros, movimentos dos bichos, a água dos rios/lagos/cachoeiras, som do
Esse universo nos legou talentos como Zé Côco do Riachão (José dos Reis Barbosa dos Santos), gênio autodidata da região de Riachão, entre Mirabela e Brasília de Minas, chamado por alguns alemães que o conheceram, de Beethoven do Sertão. Distante algumas centenas de quilômetros, na região do Pontal do Paranapanema, Junqueirópolis, surgiu o Índio Cachoeira (José Pereira de Souza) e mais longe ainda, em Campo Grande, no grande Mato Grosso antes da divisão, a violeira Helena Meireles. E no distante sertão de Pernambuco, região de Serra Talhada, Adelmo Arcoverde. Cito os exemplos – se se fizer um levantamento da quantidade de violeiros geniais, descobre-se as dezenas pelo interior do Brasil – desses troncos fundadores do domínio desse instrumento, num quadrilátero territorial imenso ( Minas, São Paulo, Mato Grosso, Pernambuco) que tem em comum a solidão, o isolamento e um genuíno sentimento só explicado pelo amor extremado a Arte.
A perene resistência desses gênios que não permitiram que a voz ancestral se perdesse nos descaminhos “modernos” mantiveram viva uma tradição que só assim se manteve por conta das fundas raízes e finalmente, ao justo tempo, renderam frutos, na figura de jovens e talentosos seguidores que reconheceram a beleza e a força daquela arte preservada por séculos, que traz em seu bojo, quiçá, a ancestralidade musical do Homem? Levi Ramiro, Cláudio Lacerda, Paulo Freire, Alexandre Saad, Júlio Santin, Fernando Deghi, Passoca e até jovens oriundos do rock and roll, como Ricardo Vignini e o pessoal dos Matutos Modernos retomaram e reproduzem com incomparável vitalidade essa arte que se caracteriza pela atemporalidade. Muito justa a opinião do bluesman americano Woody Mann, encantado com a magia do Índio Cachoeira, que vaticinou com espantosa lucidez: “Arte honesta!” Honesta porque pura, porque realizada com amor e dedicação desinteressada, sem auxilio de verbas governamentais ou das ONGs, que em muitos casos infestam a vida, atendendo a interesses nem sempre genuínos...