Está rolando projeto que lembra o Lira Paulistana, efervecente porão da música em Pinheiros.
> por Pedro Ivo Dubra
Um livro do escritor Mário de Andrade (1893-1945) deu nome a um agitado porão da Rua Teodoro Sampaio, em Pinheiros. Durante sete anos, entre 1979 e 1986, ali funcionou o Lira Paulistana, teatro que virou um mito da música alternativa na cidade. Nesse espaço se revelaram, em shows memoráveis, Cida Moreira, Itamar Assumpção com sua banda Isca de Polícia e muitos outros - aglutinados no que se convencionou chamar devanguarda paulistana. A hoje histórica casa ganha tributo com um projeto chamado Lira dos Trinta Anos (outra referência poética: Lira dos Vinte Anos é o título de uma obra do autor romântico Álvares de Azevedo).
Até o fim de dezembro, artistas que pisaram naquele palquinho ou estiveram na plateia assistindo aos irreverentes espetáculos ocupam três salas do Sesc Consolação. Para dar início aos trabalhos, na terça (17), foi escalada a banda Isca de Polícia, que divide as atenções com a cantora Anelis Assumpção, fi lha de Itamar (1949-2003). Na quarta (18), há dois grupos divertidos: o Língua de Trapo e o Premeditando o Breque. Antes dos espetáculos desta semana, ambos no Teatro Sesc Anchieta, será projetada uma versão de trinta minutos do documentário que Riba de Castro, um dos idealizadores do velho Lira, está produzindo sobre a época. Nas próximas semanas exibem-se Arrigo Barnabé, Tetê e Alzira Espíndola, Passoca, Ná Ozzetti, Jorge Mautner...
SERVIÇO:
Lira dos 30 Anos. 12 anos. Teatro Sesc Anchieta (320 lugares). Rua Doutor Vila Nova, 245, Consolação, ☎ 3234-3000. Terça (17) e quarta (18), 21h. R$ 10,00. Bilheteria: a partir das 12h (ter. e qua.). Ingressos também no CineSesc e nas demais unidades do Sesc. Até 31 de dezembro.
> A MOÇADA DE LIRA
por Laerte Sarrumor
Mãe sempre acha o filho ou a filha a coisa mais linda do mundo. E às vezes é mesmo. A mãe da Gisele Bündchen, por exemplo, pode afirmar de boca cheia. Eu sempre me perguntei se considero esse pessoal da Vanguarda Paulista genial porque são da minha "turma" ou se são realmente artistas fora do comum. Só sei que travei conhecimento com essa gente naquela noite de maio de 1979, quando fui com colegas da faculdade de jornalismo assistir ao 1º Festival Universitário da Música Popular Brasileira, da TV Cultura, no Teatro Pixinguinha, que ficava no primeiro andar do Sesc Vila Nova, atualmente Sesc Consolação. Muita gente boa se apresentou nesse festival: Celso Viáfora, Eliana Estevão e até o Marcelo Rubens Paiva, de pé, dançando e cantando sua composição Kibamba (como é mencionado no livro e na peça Feliz Ano Velho). Mas quando vi e ouvi Arrigo Barnabé e banda e o conjunto Premeditando o Breque - que ficaram respectivamente em primeiro e segundo lugares, com Diversões Eletrônicas e Brigando na Lua - eu tive um verdadeiro choque. Eles estavam fazendo exatamente o que eu também fazia! Música com letra bem-humorada, tocada com displicência e irreverência. Só que de uma maneira muito mais ousada e inovadora. No caso do Arrigo, com o requinte da dodecafonia e do atonalismo. Ainda em transe, fui pra casa e compus Prazer, um samba de breque metido a non sense, apresentado pela primeira vez ainda naquele semestre, no show de música e poesia que lançava a revista literária da faculdade, Esquina do Grito (Que as Bocas Que se Perderam no Tempo Falem e Cantem na Esquina do Grito era o nome completo). Nesse sarau lítero-musical cantei também Na Minha Boca e Consciência Geral, de minha autoria, e Por Falar em Anistia, de Guca Domenico, parceiro desde a primeira hora. Assim foi gerado o Língua de Trapo.Ainda nessa fase embrionária gravamos uma fita cassete independente, Sutil como um Cassetete, e a lançamos em shows no circuito universitário e em festivais, até chegarmos ao projeto Virada Paulista, em 1981, que reuniu 42 trabalhos musicais desconhecidos para serem apresentados no Teatro Lira Paulistana, o charmoso porão cultural, onde tudo acontecia. O Lira logo ficou sendo nossa casa, ninho acolhedor que abrigava a moçada que representava "a nova cara da música popular brasileira". Depois desse projeto, ganhamos uma temporada própria, às segundas e terças, um dos horários alternativos (lá aconteciam shows e peças teatrais de domingo a domingo, em vários horários). Em 82 gravamos o primeiro bolachão, Língua de Trapo - no estúdio Áudio Patrulha, do nosso ídolo e mestre Tico Terpins, da banda Joelho de Porco -, lançado pelo selo Lira Paulistana numa temporada de dois meses no glorioso porão, agora no "horário nobre" (de quarta a domingo), com a plateia abarrotada de gente. Muitas vezes tivemos de fazer duas sessões, e mesmo assim ainda ficava gente pra fora. Em pouco tempo nós e os colegas de geração - Premê, Itamar Assumpção e Banda Isca de Polícia, grupo Rumo e outros "bambas" - começamos a não caber mais no Lira, tendo que migrar para espaços maiores, como o Centro Cultural, o Sesc Pompeia e teatros da Prefeitura, como o Paulo Eiró e o João Caetano. Mas mantivemos o vínculo com o pessoal do Lira. Além de ser a nossa gravadora, de o jornal Lira Paulistana divulgar nossos espetáculos mesmo em outros espaços, e dos shows gigantes promovidos pelo Lira com a Secretaria de Estado da Cultura - no litoral, em Campos do Jordão, na Avenida Paulista, na Praça Benedito Calixto -, tinha a coisa da brodagem. A gente podia contar com o velho e bom porão pra fazer um programa com plateia, comemorando o "aniversário de seis meses" da Rádio Matraca, ou pra reunir e organizar os fãs do Língua de Trapo para torcerem pela música Os Metaleiros Também Amam, no Festival dos Festivais, da Rede Globo, ou ainda para fazer um show-vigília no dia da votação das Diretas Já. E agora estamos aqui, 30 anos depois, para festejar a lembrança do saudoso teatro - pequetito pero muy cumplidor -, curiosamente no mesmo prédio onde conheci o trabalho dessa moçada talentosa. Sobre a qual posso afirmar, agora com certeza: não é bairrismo nem corujice de mãe. Esse pessoal da geração Lira Paulistana é mesmo batuta. *Laert Sarrumor é músico, humorista, vocalista e fundador do grupo Língua de Trapo, um dos idealizadores do projeto Lira dos 30 Anos.
> AGENDA PARA DEZEMBRO / 2009 / BOCA NO TROMBONE
(enviada pela Bete, lembrando que Deo Lopes estará lá!)
LIRA PAULISTANA - 30 ANOS DEPOIS
BOCA NO TROMBONE
FUNARTE – Fundação Nacional das Artes – SÃO PAULO-SP
Ingresso : R$ 10,00 - Alameda Notman, campos Elísios
Quinta 03 - 19h
MUNDOS - FUTURO ANTIGO - O SURTO - SMACK
Sexta, 04 - 19h
CATAIA - DEO LOPES - PARANGA
Sábado, 05 - 19h
CUMIEIRA - ARRIGO BARNABE
Domingo, 06 - 20h
ANELYS ASSUMPÇÃO -
Quinta 10 – 19 h
PERCUTINDO MUNDOS
INSTRUMENTAL FARIA&BANDA
Sexta -11 – 19 hs
ESTRAMBELHADOS - LUCIANA - SUZANA SALLES
Sábado, 12 – 19 hs
SWYCHELLES - MERCENÁRIAS
Domingo, 13- 20 hs
ZAMBOMBA - LÍNGUA DE TRAPO
- ISCA DE POLICIA - ARRIGO BARNABE