Há uns tempos, poucos tempos, o povo do ser-tão paulistano se alvoroçou com a estupenda notícia que a Editora Chefa, nossa Fernanda Aragão fora merecidamente laureado pela Academia Brasileira de Letras. A noticia se deu por aqui, através do Guru ZéMaria, conhecedor de caminhos, mas, como a memória desta terra é curta, não custa sempre lembrar, afinal, estamos todos doidos para ver o livro impresso em papel a estalar em nossos dedos. É um primeiro trabalho, de tantos outros que devem vir, e tal qual primeiro rebento, dá um trabalho, né?
Estamos ansiosos para ver in loco a leveza e elegância de seu estilo agora ganhando corpo e viajando mundo afora, materializados em papel e tinta, em vez da fugaz e efêmera vida da blogosfera.
Certa vez, quando principiava as andanças pelo mundo digital, Fernanda perguntou a uma de suas orientadoras qual a receita de sucesso de um blog. A mestra lhe deu uma dica aparentemente utópica: “- Você deve ser uma Lenda!” Se era somente isso, o fundamental, há muito gestado, emergiu e ela não se fez de rogada: Fernanda tornou-se “A Lenda”, apelido simpático ao qual logo aderimos. No curso de sua história, belas surpresas fervilhavam a cada dia. Seus textos curtos, porém eivados de observações cortantes e profundas, tem um magnetismo muito peculiar, que nos atrai e conduz. Ela conhece os clássicos e os modernos, e desmitifica com graça a erudição, fazendo-nos acreditar que é possível existir vida inteligente nos textos instantâneos. Esse seu livro de estréia já fez jus a prestigiadíssimo prêmio literário concedido pela Academia Brasileira de Letras e, assim, Fernanda, a Lenda viva, finalmente ganha luz. Comunicadora da velha linguagem escrita, perfeitamente adaptada aos novos tempos da linguagem ágil - aliás, nada fácil é arriscar-se a escrever e ser lida assiduamente pelo público, em tempos de símbolos cifrados nos messengers e twitters...
Em seus textos, o leitor se permite parar e refletir nem que seja por um bocadinho só, tempo para um cafezinho e, se o compromisso quotidiano dos modernos “peões na amarração” deixar – como diz a cantiga do bardo Elomar! – quem sabe a prosa possa se estender para o tempo de um “chopps” ou vários! O leitor tem a rara sensação de cumplicidade, de partilhar com ela os múltiplos sentimentos, os flashes da vida urbana, as dúvidas, angústias da velocidade massificante que nos empurra rumo à exaustão. Fernanda capta um som aqui, uma nuança de cor ali, frases, olhares de passantes anônimos, as muitas vidas das metrópoles ou vilas, como a querida São Luis do Paraitinga que ela tanto ama e louva em prosa e verso!
Em seus textos, o timbre do sax ou um acorde de viola ganham frescor e vivacidade: signos urbanos, memórias, desejos, trocas, a rede delgadíssima que interliga as múltiplas “cidades invisíveis” – recorrência ao livro de Ítalo Calvino, de mesmo nome. A cidade é, enfim, plural.
É um dom essa capacidade da comunicação breve, quase instantânea? Cada novo livro escrito traz necessariamente possibilidades de algo novo. Nas lacunas do não-escrito, espaço para o leitor refletir e, assim, escrever ou reescrever ele próprio o livro ou sua(s) própria(s) história(s), Fernanda Aragão faz soar fácil e fluente a palavra, sem resvalos no vulgar e no superficial: imagens, frases, instantâneos prosaicos com sabor de café com bolo de fubá, incitam-nos a crer e a prosseguir, a buscar e a nos arriscar no improvável, à cata dos encantos ocultos da fascinante experiência do “viver”.
Viva Fernanda, a Fê, nossa Editora Chefa! (e nem estou pedindo aumento, hein?)