O mineirinho está fumando o seu cigarrinho de paia, o que não atrapaia, de cócoras, ou também sentado no calcanhar, pois se assim não estivesse não seria o mineirinho, o da história, quando para um carrão bonito, levantando poeira e o motorista já vai fazendo pergunta.
"Você ai como eu faço prá chegar na próxima cidade?."
" Não sei não."
"Sabe se a ainda está muito longe?."
" Não sei não."
"Você não sabe nada, heim?."
"Sabê eu posso não sabê mas perdido eu não tô não".
"Você ai como eu faço prá chegar na próxima cidade?."
" Não sei não."
"Sabe se a ainda está muito longe?."
" Não sei não."
"Você não sabe nada, heim?."
"Sabê eu posso não sabê mas perdido eu não tô não".
Observação da história, não é "causo" porque é história verdadeira: se lá no interior de Minas as pessoas ficam perdidas "mágina" então em São Paulo. A pessoa precisa ir em um enderêço e sempre tem alguém prá dizer que é fácil, só pegar o ônibus tal na rua tal, descer em frente ao supermercado e pegar a próxima à direita. O interessado não tem anotado nome de rua, número de telefone, e "guarda tudo na cabeça". Chega no ponto, geralmente um de grande movimento de passageiros e ônibus, tenta achar o seu, pergunta prá alguém que está ali também pela primeira vez, outro que não conhece onde fica. Dá sinal de parada para o ônibus que vem chegando e boa parte das pessoas correm para a porta de entrada, ele chega primeiro, fica parado na escada sem que ninguém possa entrar se informando com o motorista. Já que ele não sabe direito qual ônibus tomar, qual rua descer o motorista não sabe informar. Faz novas perguntas com outras informações, alguém tenta ajudar, outro fica bravo com a demora. Sem resposta volta, obrigando a uma "marcha à ré" das pessoas que ficaram atrás esperando para subir no ônibus. Ganha de presente observações verbais e olhares de repreensão. Uma boa alma aparece e dá a ele uma informação parcial dizendo qual ônibus tomar dizendo que passa em uma avenida perto da rua que ele tem que ir.
Nem todos que entram com convicção no ônbus sabem onde descer e ao passar na catraca pedem informação ao cobrador. Tem os que mostram o enderêço em um papel, os que pedem para avisar quando chegar na praça ou na agência do banco. Uma jovem queria ir até ao Clube Sírio, que fica na rua Indianópolis altura de um número que ela informou. Pediu para o cobrador avisar quando chegar, sentou-se e abriu a Caras. Como era jovem e bonita o cobrador ficou atento e avisou. Algumas vezes o cobrador esquece, o passageiro fica relaxado e tem que descer vários pontos depois.
Ficar parado em um lugar de movimento de pessoas atrai desinformados de todos os tipos. Informações de onde fica a rua, o banco, o supermercado, a repartição pública, como chegar na estação do metrô, a Praça da República, da Sé, a Vinte e Cinco, o Mercadão. Alguns poucos chegam com um papel, e mostram ao desavisado, perguntando "sabe onde fica?". Uma manhã na Rua São Bento um desesperado mostrou a um senhor que vendia bilhetes de loteria um papel com enderêço perguntando se sabia onde ficava. O vendedor de bilhetes disse "calma, que lugar você quer ir?". O desesperado pelo menos sabia onde queria ir e o vendedor de bilhetes orientou para seguir em frente, passar o Lago do Café e entrar à esquerda na Avenida São João. O desesperado nem agradeceu e nem notou que o vendedor de bilhetes era cego. Um atencioso e grande conhecedor das ruas do Centrão.
Ambulantes, plaqueiros, garçons de bares e lanchonetes, atendentes de bancas de jornal são os preferidos na hora de pedir uma informação. Muitos são bem humorados, dão a informação com atenção, talvez por já terem "passado por essa precisão" em outros tempos. Plaqueiro e ambulante que ficam ali pelos lados da São Bento, Praça da Sé sempre dizem que gostariam de receber "um centavinho" por cada informação prestada que já daria "prá encher a pança".
Se quem tem boca vai à Roma, quem pergunta sempre acha.