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CARTA ABERTA EM FAVOR DAS MARCHINHAS E DO CARNAVAL POPULAR E DEMOCRÁTICO.

Prezados Sr(s) da Secretaria de Cultura de Santo André e demais secretarias de cultura,


No dia 07 (sete) de março de 2011, aconteceu na Vila de Paranapiacaba, distrito da cidade de Santo André, o 2º Baile de Máscaras no Clube União Lyra-Serrano, em ocasião das festividades de Carnaval.

Com marchinhas clássicas executadas pela Banda Lira de Santo André e pela Turma do Funil, não houve quem não se animasse no salão. Crianças (acompanhadas de seus responsáveis), jovens, adultos, idosos, moradores da região e turistas dançavam e brincavam juntos, com sorriso transbordando pelas máscaras, dando o tom da diversidade e da alegria.

Desde os primeiros anos do século passado, as marchinhas fizeram parte da folia e revelaram nomes importantes da música popular brasileira. Verdadeiras crônicas urbanas, as marchinhas eram uma espécie de grito popular, muitas vezes levantando temas políticos e sociais, amores e dores de cotovelos, futebol, etc. Era o cotidiano sendo cantado dentro dos cordões dos foliões.

Cordões que, àquela época, não restritivos, representavam a população não elitizada do país, e se configuravam como o espaço que esta população possuía para se manifestar.

As marchinhas tiveram seu auge nos anos 30, 40 e 50. Dos anos 60 em diante as marchinhas começaram a perder espaço para os sambas-enredo. As escolas de samba, agremiações de grandes sambistas, começavam a ditar quais eram os sucessos.

Atualmente, o que vemos no Carnaval, é a predominância de festas particulares, comerciais, e muitas vezes, elitizadas. Perdeu-se a tradição de cada um confeccionar sua fantasia, e muitos estudantes do ensino básico não sabem sequer o que é serpentina. Viramos consumidores do Carnaval, em que, na melhor das hipóteses, o consumimos através da mídia.

É preciso devolver ao povo a festa que é do povo.

Portanto, e por meio desta, reivindicamos que se façam mais carnavais como este, no qual as pessoas possam estampar sua alegria, brincar de serpentina, confete e fantasia. Um carnaval em que pessoas de classes sociais diferentes convivam e se divirtam. Um carnaval não comercial, democrático, que faça ressurgir a possibilidade criativa de se confeccionarem fantasias e máscaras, as possibilidades criativas do ser humano.

Reivindicamos, também, que sejam feitos investimentos na Vila de Paranapiacaba, tais como: logísticos e de infra-estrutura, para que os moradores da região tenham suporte e possibilidade de atender com qualidade os turistas; de transporte, para garantir a facilidade de acesso ao local; culturais, para que haja uma programação variada ao longo de todo o ano, aquecendo a economia local; esportivos, para que todos possam usufruir das características naturais da região; e educativos, explorando suas características através de seu resgate histórico e através do convívio do homem com a natureza.

A Vila de Paranapiacaba, seu patrimônio tecnológico e seu entorno, composto por remanescentes da Mata Atlântica, foram tombados em 1987 pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo), em 2002 pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional)e no ano seguinte, na esfera municipal, pelo Condephapaasa. E desde 2008 o local é candidato a patrimônio da humanidade pela UNESCO, segundo o site da própria prefeitura.

Nesta perspectiva, entendemos que um patrimônio da humanidade deve ser usufruído pela humanidade. Deve ser em favor da construção e manutenção cultural e social da humanidade.

E eis aí possibilidade desta combinação interessante: baile de máscaras com marchinhas carnavalescas na Vila de Paranapiacaba. Evento que se configura como puro resgate histórico popular e regional.

Nós do Letra Corrida – Ateliê de Literatura e Criatividade vimos, através desta, parabenizar a prefeitura e a secretaria de cultura por esta iniciativa, que resgata as marchinhas de carnaval, bem como todo seu caráter familiar, popular e democrático desta festa.

E, claro, reivindicamos mais festas carnavalescas saudáveis e democráticas, que seja do povo para o povo, e que permitam a todos, momentos de diversão e alegria.

Colocamo-nos à disposição para eventuais parcerias e apoio em eventos como o citado anteriormente.

Letícia Mendonça e Fernanda de Aragão,

Letra Corrida – Ateliê de Literatura e Criatividade

São Paulo, 12 de Março de 2011.
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