Em tempos sisudos de
frio e chuva, o Sol se recolhe e medita; a metrópole solitária,
cochila e
adormece! E nos sonhos da cidade, os poetas, sonham!
O que sonhas, poeta, cujo semblante
resplandece na noite de
breu, vigiando um sono que não vem?
Sonhas o impossível,
poeta? Para ti, nada é impossivel, pois
sua força emana da misteriosa região onde reina o coração! Tua
força, poeta, move montanhas! És dotado de paixão e de fé!
Tens a coragem dos insensatos, o ímpeto dos loucos, a força
selvagem do vulcão
e do fogo! Na noite de breu, atento ao sono que tarda, tudo em
ti é serenidade,
seu coração transborda de mansidão, vais ao sabor de
tranquilas ondas,
misteriosas ondas obedientes ao pulsar de seu coração!
Com que sonha, o
poeta?
Com a boa vontade
dos homens?
Com justiça no
exílio da terra?
Com a amada, cuja
lembrança arranca-lhe um sorriso durante o sono? Virá, com a
aurora em poucas horas, a
Esperança, com a promessa de um dia de sol.
O Mar! O Mar! Distante mar!
As batidas de seu
coração ouvem-se claras e com elas, o bramido do mar, que de
sereno, torna-se
agitado, bravio! Também o mar espera. Espera a aurora? O beijo
das gaivotas? O
riso das crianças que vão molhar os pés nas mornas águas de
areia?
Espera, Mar, o passo
tardo do velho, a meditar preguiçoso e sem pressa?
Espera, Mar, a graça
da moça bonita a desfilar em sua orla? Ansioso, o mar aguarda, o casal que de
mãos dadas, se
esquecem de si e se tornam eternos por um momento!
na solidão da noite,
o poeta ouve o Mar e o Coração, que como ele,
esperam as promessas do dia que vem:
O coração prisioneiro soluça
solitário em sua cela
Corpo, dispersa nuvem
nas ondas
desesperadas
á deriva
Em vagas de açoites.
O impiedoso fado:
Soluça noite de lua
Suas lágrimas de prata
brame o mar que como eu
Espera o dia raiar.
quando verei sob o sol
Teu rosto, minha aurora?
Solitário
na noite de
breu, o poeta ouve distante, o bramido do mar, tão sereno, tão
misterioso, tão
poderoso e tão incontrolável quanto o pulsar de seu coração. Um
certo tempo e
lugar o separam da visão do belo rosto da amada, cuja visão é
pura luz e pura
alegria. Então, pensa, que, não somente ele, mas também o mar, todo o mundo
que o envolve,
estão repletos de sua presença e esperam o raiar do dia e
as promessas que
trazem ao mundo.