RABECA

A rabeca é um curioso instrumento: áspera em todos os sentidos, a começar pelo visual: uma rabeca, salvo exceções, não tem o acabamento primoroso e envernizado de seus pares. Pode ser lavrada diretamente num único bloco de madeira ou confeccionada em partes para serem coladas.
  
Rabeca tradicional "janeira" 
(teria esse nome por ser comum nas Folias, chamadas "janeiras" em certas partes de Portugal?)  
Apesar de raro, pode ser feita com cabaça – não confundir com o urucungo, este um instrumento de origem africana, mas de uma só corda, também conhecido como berimbau-de-barriga. O som da rabeca é arranhado, agudo, rasgado, serve tanto a ritmos dançantes ou introspectivos, melancólicos . Muitos dizem ser o violino dos pobres, confeccionado à partir daquele instrumento, uma imitação. (Somente em alguns casos isso pode ser verdade - o violino ter servido de inspiração - como foi o caso do “seu” Nelson da Rabeca, lavrador alagoano que já passado dos cinqüenta viu na televisão um violino sendo executado e ficou tão encantado que quis de qualquer maneira um daqueles instrumentos. Impossibilitado de adquirir, resolveu ele mesmo confeccionar um, sem saber que estava se tornando um dos maiores luhier do instrumento no Brasil e no mundo). Porém, é seguro que certamente foi o ancestral do violino, uma vez que não podemos imaginar que o violino tenha surgido já pronto na Europa onde se tornou clássico.

Rabeca de fandango
  
Capa do CD inédito "Rabecas",
com Zé Gomes, Thomas Rohrer e Fabio Freire
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Hoje em dia se sabe que a rabeca provavelmente se origina do rebab árabe trazido pelos mouros para a Europa e na Itália Renascentista e Barroca tenha ganhado uma versão sofisticada. Assim, o violino seguiu seu caminho célebre, adotado pelas Cortes européias, enquanto a rabeca prosseguiu sua sina de alegrar os folguedos das gentes simples das aldeias.
Trazida para o Brasil pelos portugueses popularizou-se, tornando-se juntamente com a viola o instrumento preferido dos cantadores, reinando absoluto por décadas, atravessando incólume o período colonial, imperial, entrando firme na Era Republicana. A rabeca, portanto, jamais poderia ser uma imitação do aristocrático violino, uma vez que provavelmente tenha vindo antes do mesmo 





 Ao longo do tempo, num divertido jogo de esconde-esconde, a rabeca continua divertindo e encantando, seduzindo jovens e sempre tendo a confiança dos mais velhos, companheira fiel, que nunca faz feio como instrumento solista ou em parcerias das mais variadas; em folguedos levanta-poeira ou à maneira tristonha ou lírica de um aboio, num terreiro ou numa sala de concerto, eis a eterna rabeca, a seduzir e encantar... 



"Seu" Nelson da rabeca 
        
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