Que as pessoas conversavam "olho no olho" nos tempos de antigamente não
há mais nenhuma dúvida no contraponto da conversa nas redes sociais.
As
coisas estão bem modernas e mudadas lá pelas bandas do interior de São
Paulo, na minha cidade "de nascença" que tem quarenta e dois mil
habitantes. Notei, participando do grupo da comunidade no facebook, que
as pessoas, mesmo morando lá, estão se reencontrando, descobrindo
que continuam morando na mesma cidade e sem se encontrarem pessoalmente.
Ao mesmo tempo essas pessoas estão se encontrando com as que nasceram
lá, se mudaram fazem anos e aquelas que lá moraram por alguns anos. É o
lado bom, muito bom do reencontro mesmo que virtual. Em uma das
passagens recentes por lá conversava com um amigo quando ele perguntou
sobre um amigo em comum e, para minha grande surpresa, ele não sabia que
o nosso amigo em comum havia morrido e morando ambos na mesma cidade.
Naquele instante "pensei com meus botões" que nos bons tempos de
antigamente a noticia corria de "boca em boca", amigos e parentes iam
até as casas para avisar.
Em um dia do mês passado acessando a
comunidade no facebook li a notícia do falecimento do Lobão, meu grande
amigo desde os bons tempos, que morava lá. Imaginei que minha irmã, que
mora lá, e também grande amiga do Lobão, estava sabendo e até esperei que
ela me ligasse avisando. À noite liguei para ela e dei a notícia, que
ela não sabia e não esperava. Quase quinhentos quilometros de distancia a
nos separar e ela, simbólicamente, a poucos metros nada sabia. No
período da manhã ela tinha ido até a cidade vizinha e talvez algum carro
de som tenha feito o anuncio do falecimento e a depender do valor
dispendido o carro percorre poucas ruas. Pode ter sido anunciado nos microfones da rádio local. Bom mesmo era o grande Manuel
Junqueira Rosa, o Rei da Voz, que a bordo do seu fusquinha azul
percorria a cidade fazendo todos os tipos de anúncios, não economizava
palavras e principalmente em anúncios fúnebres. O Manuel Junqueira Rosa,
meu grande amigo, não era muito de ler o texto, dava uma olhada e
criava o seu para fazer os anúncios dos mais diversos. Um dia foi
contratado pelo gerente do cinema para anunciar um filme com o Arnold
Schwarzenegger e na primeira olhada viu que teria dificuldades com a
pronuncia. Havia sido locutor do serviço de alto falantes da praça da
matriz e o primeiro na cidade a utilizar o alto falante em carro. Não se
perturbou, criativo e livre como sempre percorreu as ruas anunciando:
"... hoje no Cine São Manuel, sensacional filme com o grande ator
americano Arnold e suas negas...". Devidamente alertado o gerente do
cinema conseguiu localizar o Manuel Junqueira Rosa e suspendeu o
anuncio. Não tenho notícias de como foi a bilheteria naquela noite. O
Manoel Junqueira Rosa já morreu e como não morava mais lá não sei como e por
quem foi feito o anuncio do seu falecimento. Deve ter sido, até como
uma homenagem ao primeiro locutor do serviço móvel de auto falantes.
Entendo, aceito, compreendo e participo dos tempos modernos e nada
contra nem a favor, muito pelo contrário. Não faço qualquer comparação julgando se era bom ou ruim e se hoje é bom ou ruim. Mas que as coisas
estão mudadas estão. Tudo em constante transformação.