PRONTO! 2MARES, QUENTINHO, NO FORNO!

Poucas vezes em minha vida de admirador e amante da música brasileira tive tanta expectativa positiva em torno de um trabalho: o mais recente projeto de Kátya Teixeira e Luiz Salgado, a inédita parceria que resultou num trabalho de pesquisa que remonta às origens da cultura comum lusobrasileira.
Já se falou um pouco do 2mares, aqui mesmo neste blog sertãopaulistano. E para quem quiser, puder e tiver tempo, dê uma olhadinha no site do 2Mares. Lá estão textos primorosos, gostosos de se ler, informativos, com autores do naipe de Consuelo de Paula, Julinho Bittencourt e Alexandre Silva, este último direto de Lisboa, Eis o link:
http://www.doismares.com/
Aproveitando esse espaço, quero reproduzir a primeira parte do texto que escrevi especialmente para o último CD de katya, o Feito de Corda e Cantiga, pois, tudo o que foi dito lá a respeito de como a morena paulistana, meio mineira, meio alagoana, meio índia, meio negra se insere na cultura popular, continua valendo! E muito mais, pois a cada dia está melhor, a menina Katya:
“Katya Teixeira carrega no sangue e na pele tradições ancestrais que remontam as Minas e as Alagoas de seus pais, por sua vez amalgamados a cristãos novos, mouros, moçárabes, ciganos. Batuques negreiros e danças indígenas, cantigas vindas do caldeirão ibérico, repercurtindo ecos celtas, visigodos, hindi. Com o rigor incansável da pesquisadora e a sensibilidade da artista, capta a essência da beleza e sabedoria ocultas na simplicidade cultivada há milênios pelos povos; buscar, re-criar, cantar, dialogar, confluir: esta tem sido a sina dessa genuína paulistana de alma mestiça.
Buscando elementos na tradição oral das culturas índia, negra e branca nos rincões brasileiros de norte a sul e d’além-mar - Ilhas Canárias, Cabo Verde, Ilha da Madeira, Tejo, Trás-os-Montes - seu canto se universaliza num exercício de prestigitação para ouvidos atentos às múltiplas influências referidas: pura alquimia. Da “massa bruta”, suas mãos de artesã fazem brotar um elemento novo, amalgamando e “costurando” tendências, convergindo-as na direção de algo que se poderia chamar “música e cultura mestiça”.
Nas suas andanças, junta no alforje loas, lundus, jigas, joropos, congadas, sambas, fados, choros, aboios, cantos de trabalho. Com seus parceiros – são muitos, entre consagrados músicos e anônimos, gente do povo – cria novas harmonias, enriquecidas de novos sabores e saberes, de cores. Nada em sua obra é fortuito: qualquer referência tem sua r
azão de ser e de estar ali!”

Quanto ao parceiro de palco e de disco, Luiz Salgado: vendo-o em ação, sua voz forte e ao mesmo tempo delicada, carregada de sentimento e emoção, é ter a certeza de estar diante de um verdadeiro porta-voz de nossa história luso brasileira através da música. Luiz Salgado encarna com perfeição cantadores de antanho, que remontam séculos de história e interpretes do nosso tempo, daqui e de lá: segue os passos de Dércio Marques, Vital Farias, Vidal França, João Bá, Zeca Afonso. Com seu canto e sua viola, seu violão, sua presença, honra e faz jus aos artistas citados e a todos os outros!
O alimento de nossas almas já está pronto, já no forno! Já e já a fornada sai! E nossos corações e nossas salas se encherão do doce aroma do pão de nossa alma, totalmente impregnado nos paladares de nossas vidas e que perdurarão às gerações vindouras. Por ora, enquanto aguardemos o nascimento da cria de Katya e Luiz, dancemos, festivos, o olerê!
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