Foi inaugurado em 07 de novembro de 2015, na pequena Bossoroca, RS, por iniciativa da Confraria Icamaquã, entidade cultural local, um monumento em homenagem ao cantor, compositor, poeta, violonista, ativista cultural, Noel Guanani, figura central do movimento de reavivamento da cultura popular do Rio Grande do Sul. Com quatro metros de altura por uma base de três, certamente se tornará referência para os da cidade e para quem chega. Impossível não notar. Mas existe outra torre, bem maior, que poucos vêem, de cujo mirante se avista as infindas planuras pampeanas e as mais recônditas profundidades da terra riograndense: a obra de Noel, que se confunde com sua pessoa.
Noel nasceu na Bossoroca, quando ainda era distrito de São Luiz Gonzaga, em 26 de dezembro de 1941. Ferrenho nativista, desde jovem mergulhou a fundo na história de sua gente. Descendente de imigrantes italianos e de índios guarani, desde muito cedo tudo para ele era muito claro: a verdadeira cultura missioneira ocultava-se nas ruínas dos Sete Povos, também chamadas Missões Orientais, por estarem a leste do Uruguai. Dominava o idioma guarani, que no passado era o mais falado em toda região sulina, ainda hoje prevalece no Paraguai. É a linguagem das gentes simples da terra, contrapondo o culto espanhol.
Noel é herdeiro natural de uma gente que nutre um passional amor pela terra, não o “amor” de ganância do explorador ou do comerciante, mas o amor de pertencimento pela terra-mãe nutridora. Nele vibrava o eco da frase-sentença pronunciada por Sepé Tiarajú, o guerreiro índio que tombou sob o algoz castelhano sem se render: “A nossa terra tem dono!”
O fato real lhe inspiraria uma de suas composições mais representivas, de onde retiro alguns versos, como seguem:
Verão que as raças se uniram num potencial varonil
Pra levantar o Brasil, índios, gringos e mestiços
Sem medir os sacrifícios, sem ceder, sem sentir
Como se a terra seu trono, lutando com fora e fé
Igual que gritou Sepé: - A nossa terra tem dono! (Destino Missioneiro, trecho)
Nunca esteve sozinho, na verdade fazia parte de uma poderosa confraria, mas poucos encarnaram tão bem a singular personalidade do gaúcho quanto ele, que ostentava com orgulho inato essa condição. Ele próprio foi a encarnação viva do habitante daquele pedaço de mundo. Um marco, um divisor de fronteiras, descobridor de um universo que jazia adormecido e que coube a ele e seus companheiros remover as camadas do grosso e pegajoso pó que as culturas dominantes haviam tentado sobrepor. Atrevido, altivo e talentoso, Noel Guarani – nascido Noel Borges do Canto Fabrício da Silva – empunhava sua guitarra como uma arma, e seus versos destilavam balas e flores, dependendo do caso. Não se fazia rogado, tão genuíno quanto a terra bela e áspera, de campos monótonos, varridos pelo implacável minuano.
São elementos componentes da índole gauchesca a tradição guerreira que remonta séculos, as lendas comuns das três raças, cuja mistura talhou à formão sobre a pedra bruta esse ser singular, o gaúcho, que não reconhece os limites impostos pela política na história: a pampa é sua Pátria, assim como o habitante do sertão se apega à terra sem se ater aos topônimos desenhados nos mapas.
Mesmo assim – ou principalmente por isso! – ao ser radical ao extremo, paradoxalmente, em Noel prevalecia um espírito universalista. É nítido em várias passagens de sua obra, a preocupação com a preservação da natureza, em tempos que a ecologia não estava na moda...
O monumento feito em concreto armado é importante e simbólico para as jovens e futuras gerações, um chamamento a conhecer o trabalho desse que junto aos fiéis companheiros de geração, foram responsáveis pela própria valorização do termo “missioneiro” e dos muitos significados que o mesmo agrega: “missioneiro” não é apenas o habitante das regiões das antigas Missões Jesuíticas que tiveram seu apogeu na América do Sul por volta do sec. XVII. Escreve o historiador Tau Golin, da Universidade de Passo Fundo: “... por ter sido a mais consistente alternativa social ao modelo colonial europeu vigente na América, a experiência missioneira emulou a memória das gerações futuras, além de servir de fonte para representações de utopias igualitárias” (Tau Golin, Batalha do Caiboaté, Revista de História, 2011). O doloroso processo de formação está gravado a ferro e fogo no fértil imaginário do povo da região, regido por fortes laços de solidariedade, única forma eficiente de enfrentar os poderosos inimigos cobiçosos de terras; o missioneiro é a própria gênese do habitante da “pampa:” além da guerra, a solidão, as intempéries, o permanente desafio da linha horizonte. Lutar e desafiar é seu natural jeito de ser. A altivez do “gaúcho” não deve ser confundida com arrogância, é resultante de sua própria condição, submetido desde a aurora ao por do sol, ao permanente desafio: não poderia mesmo ser de outro modo, sob pena de desaparecer, ou de perder sua identidade.
HISTÓRIA E QUEM A FAZ
A medida que o progresso avança, inexorável, o nativo bagual e xucro depara-se com seu desafio maior: derrotar um inimigo invisível, o vendedor de enganosas facilidades, conseqüência da crescente diminuição de espaços e distâncias. Os povos não se formam pela soma aleatória de técnicas civilizatórias e acontecimentos;
Homem e história se imbricam, metaforseiam, amalgamam-se: “A história faz o homem que a faz”, escreveu o francês Edgar Morin. Ela própria - a História - é cíclica, a aventura humana não se desenvolve em linha reta, e nos decisivos momentos de crise é que se revela a índole daquele que se respeita e respeita o outro; e alguém só pode respeitar a si mesmo se conhecer quem é, de que matéria é feito...
Ao longo do século XX , assentada a poeira dos combates guerreiros nas guerras de independência, por volta dos anos 1950 o progresso crescente domava ambientes até então inóspitos. Distancias diminuíram, os espaços reais e imaginários eram alcançados pelas estradas e pelas ondas do rádio. Nesse mundo modificado, o gaúcho típico era um protótipo um tanto desajustado, ponto fora da curva no mundo racional e objetivo. Nostálgicos da antiga grandeza guerreira e gravitando em torno das grandes estâncias e sem querer mexer no status quo, o gaúcho se tornou folclórico, as tradições petrificaram-se uma vez que não mais faziam parte efetiva da dinâmica cotidiana, e assim passaram a ser revividas simbolicamente, como entretenimento. Esse novo jeito de ser do gaúcho, uniformizado de bombacha, botinas e guaiaca era tão somente uma imagem e essa inautenticidade se refletia na musica, nas danças. A lendária rebeldia e altivez se acomodara em zonas de conforto e uma onda conservadora impregnava como visgo: na vida cotidiana, do trabalho ao lazer, nada de questionamentos; as massas populares se entretinham no material de fácil e enganosa absorção e o mundo regido pelo poderoso estancieiro dormitava comportado, ordeiro.
O panorama da cultura “gaúcha” naqueles meados de anos 1950, seja nos massificantes meios radiofônicos ou nos bailes e quermesses das médias ou pequenas povoações, era inteiramente contaminado por marchinhas e xotes, ou suas variantes, dezenas de denominações, além dos chorosos e alienantes dramalhões mexicanizados. Provavelmente os peões das estâncias reproduziam em seus folguedos “oficiais” a música do gosto patrão e seus convidados. Ou do caudilho da vez. Suas próprias cantigas, considerada pobre e inculta, era reservada á intimidade dos galpões ou folguedos caseiros, a exemplo do que acontecia longe dali, com os caipiras do interior paulista...
OS GAUDÉRIOS
Nichos de resistência havia, contudo de alcance apenas local. Provavelmente o primeiro movimento de vulto a ultrapassar as fronteiras regionais e valorizar a autentica cultura nativa tenha sido Os Gaudérios, grupo musical surgido no inicio dos anos 1950, pelos jovens Zé Gomes, Moraes Filho, Jarbas Cabral e Neneco (não confundir com outros grupos de mesmo nome que proliferaram depois, ao longo do tempo). Tinham a colaboração do grande Barbosa Lessa e foram influenciados no inicio da formação por Paixão Cortes e seu grupo “Tropeiros da Tradição.”
Vozes, quiçá do futuro, sopraram a mente daqueles jovens que ousaram fomentar a estranha e inusitada proposta de promover o resgate dos temas tradicionais e enriquecê-los com arranjos ousados: um diálogo entre o velho e o novo, a decisão de abrir caminhos e singrar mares a partir do porto seguro; conquistar as novas gerações e não apenas reproduzir “arqueologicamente” a cultura petrificada dos rincões, sem vínculo com o mundo real que prosperava avassalador. Era mais ou menos isso, em superficial análise, o que propunha Os Gaudérios. Até hoje, quem regrava “Homens de Preto”, de Paulo Ruschel, ainda faz uso do arranjo-base criado pelos Gaudérios. A empatia com o trabalho criativo, inovador e respeitoso foi imediata, como se reacendesse antigas nostalgias do passado altivo, componente natural do ser gaúcho. Ainda sob o efeito do impacto inicial, o grupo viajou para a França, onde participou do Festival Internacional de Folclore, ganhando o primeiro premio.
Conta a lenda - que reproduzo aqui de “ouvido”, pois não pude confirmar em nenhuma fonte - que Lupicinio Rodrigues, compositor de prestígio, procurou os Gaudérios e os inquiriu sobre a razão de não cantarem composições suas e que os mesmos retrucaram que ele, Lupicinio, era compositor urbano, sem pé no chão, portanto, não lhes interessava. Ferido em seus brios, Lupicinio retirou-se e em algumas horas compôs “Amargo” (que às vezes é chamada “Cevando o Amargo), que se tornaria tradicional no cancioneiro da pampa.
Amigo boleia a perna
Puxe banco e vá sentando
Descansa a palha na orelha
E o crioulo vai picando
Enquanto a chaleira chia
O amargo vou cevando (trecho)
A cantiga seria lançada no segundo e último LP do grupo, que teve efêmera vida de oito anos, mas que foi, segundo muitos, o pontapé inicial para o ressurgimento da cultura do interior gaúcho (há quem diga que foi sob sua influência que surgiram os primeiros CTGs – Centros de Tradição Gaúcha, que mais tarde foram absorvidos e tornados locais de comércio).
Aberta a picada, um solo fertilíssimo foi descoberto e muitos artistas verdadeiramente populares tiveram vez e saíram a semear, seguindo o fio de meada que foi tecido a partir de tão fundas raízes, ressoando poderoso. O ponto culminante certamente foi a
genial geração dos 1970, destacando-se Noel Guarani, Jayme Braun e Cenair Maicá, entre outros (não sei dizer se Pedro Ortaça estava no grupo, mas certamente comungava os mesmos princípios).
Nunca foi fácil. Pode-se afirmar que foi um trabalho, uma atividade de guerrilha, porém, o velho orgulho de ser missioneiro estava de volta, movimento que se alastrou por todo o Rio Grande. Artistas e gente do povo, todos, malgrado as diferenças estilísticas e outras, são militantes, todos de um modo ou de outro, comprometidos com diversas causas, mas com um elemento comum: a rigorosa busca pela autenticidade.
Diferem visceralmente de outros personagens e gêneros, voltados para a arte de “massa”, que por sua vez passaram a dominar os CTGs, tornando-os inevitavelmente centros de consumo, sendo muito comum nos grandes centros, nas chamadas “churrascarias gaúchas” – onde o dono nem precisa ser gaúcho! – os garçons fantasiados de bombachas, botas e guaiacas, um locutor imitando canhestramente o sotaque gaúcho, intermediado pelas terríveis “marchinhas”, "quadrilhas" de origem indefinida, tudo para que o “cliente” se sinta num ambiente “típico.” (Não sei se no Rio Grande do Sul ocorre isso. Só sei que em alguns “restaurantes típicos” e CTGs de araque que visitei em São Paulo, esses arremedos são de doer! Naturalmente, se perguntar para alguém ali se conhece Noel, Cenair ou Jayme Braun, ninguém tem a menor ideia!) Era contra essa mercantilização sem critérios, fosse com relação à arte, a educação e a vida em geral que o Noel e seus companheiros lutavam ferrenhamente.
Durante os intensos anos que viveu viajando, produzindo, compondo, cantando e gravando – tudo em altíssima rotação, como se adivinhasse que seus anos produtivos seriam poucos, perante tanta coisa que tinha a mostrar – foram 8 LPs direto de sua lavra, sendo um deles – Payador Pampa y Guitarra – em parceria com Jayme Caetano Braun, lançado originalmente na Argentina, mais duas coletâneas, além de participações em projetos, como na coleção Musica Popular do Sul, de Marcus Pereira e Troncos Missioneiros, além participações em coletâneas de musica gaúcha. Posteriormente foi resgatado do acervo de sua família um raro documento, registro de um show inédito, mostrando um Noel muito a vontade, junto a sua gente, fazendo o que mais gostava: cantar e expressar claramente suas opiniões. Um achado que merece reedições, retrato de um povo, de uma cultura cuja poesia rude e sublime cola hipnóticamente em nossos ouvidos e corações.
O MONUMENTO
Dentre tudo o que realizou nos intensos anos que viveu, Noel com certeza jamais imaginou-se Monumento e daria uma irônica gargalhada se alguém o mencionasse. Enquanto termino esse texto ouvindo seu disco Canto da Fronteira e vejo uma foto do dia da inauguração, fico a pensar: que retratará o Monumento, no qual um guitarrero altivo empunha seu instrumento, como se lá do alto regesse o mundo? O Monumento, rústica imagem em concreto, apesar de todos os esforços do artista, não pode mostrar o olhar acêso e vibrante, a índole bravia do descendente de italianos e guaranis, que os acasos da História fizeram ferver o sangue guerreiro de ambos os povos e uma profunda consciência brotada lá dos inatingiveis de sua alma se impôs resoluta, como muitos poucos outros o conseguiram?
Nele combinavam-se alternadamente várias junções de opostos – humildade VS rompantes de altivez; o rude VS sublime, etc. - estados de espírito aparentemente dispares, contudo se harmonizando:
“Se jogo truco, ganho
Se cantar comando a farra
Pois sou mesmo que cigarra
Pra cantar de contra poto
Faço um cantor ficar tonto
E se malhar na guitarra” (Destino Missioneiro)
Sua disposição para a briga em defesa da arte de seu povo contrasta com a delicadeza poética com que entoava versos que também falavam de amor e das belezas daquela terra insistentemente varrida pelo minuano, o legendário vento gelado que sopra implacável, vindo do pólo sul.
“Às vezes duro de queixo
as vezes meio macio
as vezes com turbulência
as vezes calma de rio
desses que embalam as estrelas
em belas noites de estio” (Trecho de De Pulperias)
Um enorme esforço foi dispendido para que esse “retrato” do Noel fosse impresso na paisagem riograndense e do Brasil. O melhor (e maior) entretanto, é sua obra inacabada. Sabia-se que Noel tinha muitos planos antes que uma ingrata doença degenerativa o impedisse de prosseguir. Dentre eles, estava a produção de um disco todo em guarani, o idioma nativo daquelas paragens. Outro projeto irrealizado foi uma parceria com o uruguaio Anibal Sampaio, do qual uma única musica foi registrada, “Rio de Los Pájaros”, presente do LP De Pulperias.
Embora tenha vivido sua carreira em uma época onde o cultivo das imagens não era tão raro, praticamente não existem filmagens e depoimentos em vídeo de Noel Guarani – com exceção de dois curtos vídeos-depoimentos, além de um trecho da canção De Pulperias, no youtube.
Existiam as dificuldades naturais para um artista que se negava terminantemente a trabalhar para o comércio fácil e massificado e também por conta de sua postura política: negava-se ferrenhamente a pisar em palcos da Globo, tendo recusado insistentes convites de Rolando Boldrin para o Som Brasil. Sua resposta ao atual Sr. Brasil, que tanto o admirava e admira, era curta e definitiva: “Não canto pra Roberto Marinho!”
A frase e o gesto enfezado que podemos deduzir, ao contrario do que possa parecer, não era de mera birra ou pirraça: Arte para ele, era coisa de alma. O titulo de um de seus discos simboliza com fidelidade seu modo de ser no mundo, como homem e artista, seres inseparáveis: Alma, Garra e Melodia. Outra coisa que o monumento não pode refletir é o profundo amor devotado ás fiéis amizades que sempre cultivou: os parceiros e amigos Jayme Braun, Cenair Maicá, o jovem João Sampaio, parceiro em muitas músicas, entre outros.
O Monumento é importante, contanto que não se fie apenas nele: ele é o ponto de partida para mergulhar na história de um homem que é a história de um mundo que tentaram a todo custo destruir, primeiro fisicamente, depois através do esquecimento, da depreciação.
Hoje em dia a região das missões é Patrimonio Mundial, reconhecido pela Unesco, e muito disso se deve a atuação desses guerrilheiros que literalmente lutaram contra tudo e contra todos.
Considerando-se a importância histórica, os anos de atuação de Noel e seus companheiro foram poucos. As primeiras gravações dos missioneiros datam do inicio da década de 1970 e terminam com o desaparecimento precoce de Cenair, morto num acidente de carro, e de Noel, fatalizado por uma doença, em começos da década de 1980. Jayme Braun, curiosamente o mais velho de todos, continuaria gauderiando mais alguns anos. O que produziram durante esse tempo relativamente curto equivale a um clarão estelar, cujo brilho permanecerá séculos afora.
A Arte Missioneira prevalecerá, sempre, mas seus principais protagonistas correm riscos de esquecimento, o que não é difícil imaginar os motivos: a falta de interesse das nossas elites culturais, políticas e econômicas na cultura nativa. O monumento é um ponto de partida para se conhecer, pois até aqui, o patrimônio do Noel foi salvo graças ao esforço quase solitário de dona Neidi Fabricio da Silva, sua sempre companheira, mãe de suas filhas, uma delas, Laura Guarani, seguidora do oficio do pai. Para um “gaúcho de fato” cantar é parte integrante de sua identidade, muito mais que a indumentária, a culinária, a própria geografia pampeana.
Continua-se ainda, entretanto, a dever estudos acadêmicos sobre os artistas e o movimento missioneiro em geral. Até hoje, que eu saiba, sobre Noel existe apenas um livro, rico em informações, ilustrado com muitas fotos. Um interessante registro, que deve estar esgotado. Um comovente esforço para, afinal, registrar a presença de Noel no cenário cultural brasileiro.
Em sua terra, uma estátua foi merecidamente erigida. Mas no resto do país, no mais das vezes é desconhecido. Por isso, esperamos mais. Esperamos mais, mais edições, mais estudos, pois o personagem merece, o Brasil merece conhecer seus verdadeiros heróis.
Alguns versos, dentre centenas, reveladores de sua personalidade autentica, epitáfios perfeitos:
“O payador que se preze
mesmo rodando cai” (de De Pulperias)
“Não nasceu senhor no mundo
Que compre as minhas verdades” (de Total)
“Quando canto opinando
Sempre falei as verdades
A quem estiver escutando
humilde para um peão de estância
duro para um contestando” (De Pulperias)
“Gringo, para e me escuta
aqui eu canto primeiro
não por ser um guitarreiro
payador assim no mais
mas por cantar sua crença
no culto dos ancestrais
gringo, eu canto primeiro
por direito a precedência
pois cheguei nesta querência
mil anos antes de ti
sendo sangue, sou essência
do meu povo guarany
talvez, paisano, o meu verso
em muito te desagrade...
É que a tua propriedade
as sesmarias d’el rey
meus bisavós não venderam
são terras que nunca dei” (Precedencia)
* peço desculpas aos admiradores e melhores conhecedores da arte missioneira, pelas imprecisões contidas no texto e também pela brevidade. A postagem blogueira, exigua, tem limites. É um tema que merece vários tomos, de especialistas no assunto.
NOEL GUARANY, MEMÓRIA MISSIONEIRA
História e Raízes Culturais
Publicado em:
Gente de Fora,
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