Será no próximo sábado, 16 de abril, no Sesc Belenzinho: no
mesmo palco, o violeiro Noel de Andrade e a banda Blues Etílicos.
Apesar de inédita, ou pelo menos pouco usual, é um encontro
que no fundo tem tudo a ver, pois o
blues e a viola caipira se originam do mesmo meio social: o mundo rural norte
americano e brasileiro. Não faz muito tempo um grande evento no Centro Cultural
Banco do Brasil, em São Paulo, fez algo parecido com o espetáculo sonoro “Do
Mississipi ao Velho Chico”, reunindo artistas de cá e de lá, de Woody Mann a
Xangai, durante várias noites.
O encontro de Noel e a da Banda promete mais novidades e
gera grande curiosidade porque os “Etílicos” são bluseiros “modernos”, que
compõe a cena urbana, não são – nem poderiam ser – originários do mundo rural.
Entretanto, aí reside sua força e originalidade, pois eles trafegam com
liberdade e segurança por todo o mundo do blues, por todas as épocas e lugares
e com certeza ajudam a difundir o conceito de que o blues é antes de tudo um estado
de espírito.
Noel é um violeiro formado na tradição, foi discípulo do grande
Gedeão da Viola, figura icônica do mundo da viola. Entretanto, sempre foi um
inconformado, nunca se contentou em viajar somente no ambiente característico
dos violeiros. Isso é enriquecedor. Mesmo reconhecendo que o mundo dos violeiro
é um grande e vasto mundo, e que um
violeiro pode viver muitas e muitas vidas apenas tocando viola (a exemplo do que pensava, não por mera coincidência, o grande Lightnin' Hopkins, que simplesmente
se negava a tocar e cantar outra coisa além do blues), a viola caipira vai muito além dos acordes e do timbre: a cada
vez mais se prova que é um instrumento extremamente versátil, capaz de dialogar
com muitos outros generos e estilos – breve estaremos escrevendo aqui sobre a violeira francesa, Fabienne Magnant.
Sim, é enriquecedor o inconformismo
de Noel de Andrade, pois com isso, metaforicamente, ele insere a viola e
violeiros no mundo do Grande Sertão fazendo ecoar as palavras de Guimaraes
Rosa: “...o sertão, seu moço, está em
toda a parte...”
O encontro do próximo dia 16 no Sesc Belenzinho é aguardado
com expectativa. Há uma ansiedade no ar para sentir como será o trinado da
viola junto com baixos, guitarras elétricas, bateria. E a escolha do artista
temático, Tião Carreiro, não poderia ser melhor. Embora seja mais conhecido
entre o público tradicional como o cantor que formou várias duplas caipiras ao
longo da carreira, sendo a mais célebre com o eterno parceiro Pardinho, Tião Carreiro foi um dos maiores violeiros de todos os tempos, dono de um estilo
único capaz de fazer sua viola de 10 cordas cantar docemente e também pegar
pesado: um cururu pode ser hard como bem demonstra outro violeiro
rebelde, o Ricardo Vignini. Tião foi uma espécie de John Lee Hooker e nos dias
de hoje tem um seguidor involuntário, o meu conterrâneo de minha terra
junqueiropolense, o Indio Cachoeira.
Noel tem um disco gravado, o Charrua, trabalho que demonstra
o modo como o autor vê o universo violeiro, muito amplo, viaja desde o litoral
caiçara até montanhas e chapadões, não esquecendo os salões de bailes do
interior. Atualmente prepara um novo trabalho.
A Banda Blues Etilicos está na estrada faz mais de 30 anos e
se não me falha a memória eles tem uns 13 discos gravados.
Bom, chega de prosa fiada e corremos todos ao Sesc
Belenzinho, sábado, dia 16, as 21:30 horas.