Jaime Alem e a cantora Nair Cândia vão se apresentar no
próximo 9 de fevereiro, no Sesc Pompéia, a partir das 21 horas. Essa noticia
por si já bastaria para todos corrermos ao Sesc e garantir já o nosso ingresso.
São artistas de primeira grandeza e temos a certeza de sair
de lá de alma lavada, pois não será um simples show de entretenimento numa
noite de quinta feira: será um acontecimento, uma aula de cultura musical brasileira.
Algumas palavras – insuficientes! - sobre a dupla:
- Jaime Além e Nair Cândia formam efetivamente um casal, de
arte e de vida, e basta ver o sorriso de felicidade dos dois para saber que ali
o Amor chegou pra ficar: amor pela Arte e pela causa – no caso, musica
brasileira universal. A harmonia entre eles é perceptível no próprio jeito de
ser:
- Jaime, violeiro,
arranjador, maestro, compositor, cujas peças sinfônicas tendo a viola caipira
(ou brasileira, como ele prefere chamar) como instrumento solo, ainda vão dar o
que falar;
- Nair, cantora de voz lírica marcante. Seu estilo refinado,
eivado de sutilezas que só o intenso convívio amoroso e musical é capaz de
produzir: sua voz emociona intensamente sem o pieguismo, que seria até compreensível em se
tratando de um casal de fato. Ouví-los, Jaime e Nair, é uma celebração à Vida e
a Arte. A dupla tem em comum a generosidade
de emprestar toda bagagem musical adquirida em décadas a serviço da musica
brasileira de caráter popular, sem qualquer
concessão comercial ou algo que o valha.
Vamos todos e todas, pois ao Sesc Pompéia! Será uma
experiência inesquecível!
Se existe um artista, cujo trabalho possa ser considerado
como uma conexão entre os muitos brasis que cabem dentro da idéia de uma Musica
Popular Brasileira, Jaime Além se
apresenta como uma síntese dessa arte que deu tão certo no Brasil – sim, o
Brasil musical é um Brasil que deu certo: nossos artistas, e falo de artistas
com vinculo nas nossas raízes populares, cantigas e acordes gerados nas campos,
nas ruas, nos morros, nos terreiros, nos salões, indiscutivelmente, é o que
temos de melhor! O resto teremos de adequar, mas musical – culturalmente falando
- estamos na vanguarda. Basta ouvi-lo para entender porquê.
A viola brasileira:
Nas últimas décadas, a viola caipira alcançou o patamar de
instrumento de elite. Outrora, espécie de “patinho” feio da música, relegada ao
nicho de instrumento quase exótico, apesar da longevidade, eis que a violinha se
destaca, sobreira, desavergonhada, e hoje em dia se mostra sem pejo. É um
instrumento consolidado, que avança pelos palcos do mundo, como nos mostra a
francesa Fabienne Magnant, que a ombreia ao violão clássico.
Dois dos discos de Jaime Além, especialmente dedicados ao
instrumento são sintomáticos:
- “Dez Cordas do Brasil” remetem, sem explicitar
diretamente, ao instrumento que, não seria exagero se o considerássemos símbolo
do Brasil; “Dez Cordas” é uma homenagem à viola caipira (ou brasileira, ou
nordestina), evocando ao mesmo tempo as “afinações” características (cebolão,
rioabaixo, etc.) e aos nossos grandes violeiros. Quem, ao pensar em dez
cordas não se lembra de Tião Carreiro, Gedeão da Viola, Renato Andrade? A
homenagem vale tanto para os mestres fundadores, como para os violeiros de hoje: Valdir Verona, Ricardo Vignini, Adelmo Arcoverde, Paulo Freire, Indio
Cachoeira, Julio Santin, Levi Ramiro, Fernando Deghi e tantos outros, continuadores da tradição.
Ouvindo “Dez Cordas do Brasil” reconhecemos em cada faixa os
muitos sotaques que a violinha vai arreunindo
em sua caminhada;
- “Meu Relicário”, como sugere o título, evoca lembranças afetivas do próprio Jaime, do casal. Mas pensando bem, são lembranças
e momentos de todos nós; ao partilhar, de um modo um tanto misterioso, nos
reconhecemos em muitas passagens – ouçam, por exemplo, “Sua Presença Querida”:
quem, qual cristão que um dia amou ou ama, não identifica entre seus afetos,
uma “presença querida”?
Aqui, no álbum, a viola brasileira é o elo, o fio condutor
das emoções e da própria história: a linguagem empreendida pelo artista é de
fácil compreensão – revelando e/ou confirmando mais uma vez a versatilidade
desse incrível e apaixonante instrumento – e ao mesmo tempo, distinta,
singular, diferente.
Jaime Além tem uma relação de amor e carinho com a viola
(que certamente receberia a aprovação de Gedeão da Viola, para quem a viola era
como uma mulher amada). Tem com ela, viola, uma conversa de pé de ouvido e
assim lhe extrai as mais guardadas confissões, seus segredos mais profundos,
reservados somente aos que a sabem compreender. Neste CD, Jaime nos brinda com
algumas peças da Suíte Caboclinha, resultado
de suas conversas com ela, a viola. Queira
Deus, haveremos ainda de ouvir esse trabalho completo feito especialmente para
a Sinfonica de São José dos Campos. (Alguns dos movimentos, podem ser encontrados no youtube).
E tem muito, mas muito mais, a nos revelar, a violinha: num
terreiro de chão batido de qualquer dos “sertões” brasileiros, num meio-fio da
avenida São João, nos salões de bailes da vida (Miltinho Edilberto que o diga,
através do seu uso nos chamados forrós
universitários) ou nos salões de concerto.
Paciente, longeva e sábia, a viola é humilde, mas tinhosa:
exige respeito. Mas quem souber dialogar com ela, tem uma amiga para toda vida.
DISCOGRAFIA:
A dupla lançou dois discos, hoje raridades:
- Jaime e Nair (1974)
e Amanheceremos (1997),
- CDs Canção do Outro
Dia (1997) e Um Banquinho e Um Violão
(2001).
Jaime lançou dois Cds solos, duas obras primas:
- Dez Cordas do Brasil
(2009) e Meu Relicário (2014)