O ser-tão paulistano, como
sempre acontece todo fim e começo de ano, elege os TOP DEZ!
Como bem sabe quem conhece nossa proposta, em contraponto à grande mídia
que por essa mesma época elege as figuras mais representativas da sociedade nas
artes, na política, nos esportes, nas ciências, nos negócios, etc., nós
destacamos dez personalidades e/ou entidades que foram importantes ou que
colaboraram para a vida cultural de nossa cidade, e que dificilmente são citados
nos órgãos da grande imprensa, pois, naturalmente seus interesses são de outra
natureza, e o afirmamos sem qualquer pretensão de ajuizar valores.
O blog ser-tão paulistano, quem o segue conhece, procura dar espaço
para artistas e personalidade que não encontram espaço noutros meios.
2016 foi um ano atípico na vida nacional, mas nem por isso nossa vida
artística e cultural deixou de produzir arte de altíssimo nível. Segue abaixo,
nossa homenagem, nossos TOP DEZ. Destacamos
DEZ mas poderia ser mais. A ordem é aleatória, e pudéssemos representar
graficamente, todos estariam na primeira posição. São Dez figuras
representativas, famosas ou não, mas exemplares, importantes no geral e no
particular, reprodutores que são de idéias e conceitos de um mundo que pode ser
melhor. Potencial, temos:
MARIO GIL, O CD “COMUNHÃO”
O mineiro Mário Gil tece com paciência sua arte de
ourivesaria. Desde sua estréia com Luz do Cais, construiu a sólida reputação de
ser dos nossos artistas mais criativos, forrando caminho para a produção do
antológico Cantos do Mar, inaugurando parceria com um dos melhores letristas do
país, Paulo César Pinheiro. Depois de um longo hiato quando se dedicou a
produzir outros artistas, neste 2016, Mario lançou “Comunhão”, disco que
revisita nossas origens, de Capiba a PC Pinheiro, com o mesmo frescor de
novidade que só a arte popular consegue, com sua vivacidade. Mario Gil vai
além: sua poética fala de um Brasil real, mas também onírico, imaginário.
Lançou simultaneamente “Mar Aberto”, em parceria com Renato Braz, Breno Ruiz e Roberto
Leão.
KÁTYA TEIXEIRA, “AS FLORES DO MEU JARDIM”, “CANTARIAR”,
“DANDÔ”
De Kátya Teixeira
pode se dizer que seja mineira, alagoana – terra de seus pais – e paulistana,
sua terra natal. Mas também se pode dizer que seja africana, índia, portuguesa,
celta, moçárabe. Donde quer que se origine um canto popular, encontra em sua
alma ressonância. 2016 foi um ano pródigo. Além de prosseguir com o Projeto Dandõ
– Circulo de Musica Dercio Marques, comemorou em alto estilo suas duas décadas
de carreira com o belo “Cantariar”. E, deu prosseguimento à etapa de parcerias
que desde “Feito Corda e Cantiga” vem encantando o Brasil e países do Cone Sul da América, viajante
incasável que é. Produziu e está prestes a ser encontrado nas melhores casas do
ramo o comovente “As Flores do Meu Jardim.”
IMAGENS DO BRASIL PROFUNDO
As conversas musicais que acontecem quinzenalmente às
quartas-feiras na Biblioteca Mario de Andrade, sob a coordenação do sociólogo
Jair Marcatti são a porta de entrada para conhecermos um Brasil que, desde a
histórica viagem de Mário de Andrade nos anos 1920, desafia o público geral e
especialistas a indagarem a respeito de um Brasil que é “...além do litoral e qualquer Zona Sul”,
como diz a canção do Milton.
Inspirado por Ariano Suassuna, Darci Ribeiro, Guimarães Rosa e o próprio Mario de Andrade, à
cada quinzena um convidado conta sua imersão nos ritmos do Brasil que forjaram
uma identidade mestiça única no mundo. Imagens do Brasil Profundo evoca nossa
natureza múltipla, amalgamada, diversificada. Em 2016 iluminaram seu palco
artistas do porte de: Consuelo de Paula, Jean e Joana Garfunkel, Mario Gil,
Carlinhos Antunes, dentre outros.
Passados mais de 70 anos do Projeto O Turista Aprendiz, de
Mario de Andrade, o Brasil ainda é desconhecido para a maioria de seu povo.
Projetos como Imagens do Brasil
Profundo, ajudam-nos refletir a imensa riqueza para a qual estamos de costas: a
cultura brasileira.
ROBERTO BACH: “TERRA”
O tresloucado Roberto Bach não é um artista para multidões.
Não que sua obra não seja acessível, ela o é. A única razão que encontro para
que ele não seja um artista plenamente reconhecido por todo o país e assim
colher os justos louros do sucesso é seu próprio comportamento inrascível perante
o show business. Sem papas na língua
e não suportando o cinismo moderno, Roberto Bach refugiou-se na Idade Média e é
lá que se sente a vontade – embora ele próprio gostasse de uma sina diferente,
que não a de um artista quase marginal, mas que produz uma obra única e
original, a partir de receitas antiqüíssimas.
Pudera, Bach é um “goliardo”, um renegado, nenhuma das
grandes “tribos “ do mundo da arte o aceita pacificamente, o que é uma pena,
pois seu enorme e inigualável talento
fica praticamente desconhecido do grande público.
Depois da Trilogia Medieval – “Oliveira”, “Pequeno Concerto
Campestre” e “A Colina dos Cavalos Fortes” – e um disco que reproduz fielmente
os principais episódios de Os Sertões, de Euclides da Cunha (Os Sertões – Bahia
Lavada Em Sangue), ele lança no final de 2016, “Terra”, baseado na obra de
Glauber Rocha, outro renegado das artes. O “Terra” pode ser encontrado (antes
que desapareça!) na loja Baratos Afins, na
famosa galeria da Rua 24 de Maio, centro de São Paulo.
O SUL EM CIMA, PROGRAMA DE RÁDIO
Ganhador do Prêmio APCA de Melhor Programa de Radio do
Brasil, O Sul Em Cima, produzido por Mariusa Kineuchi e apresentado por
Kleiton Ramil, é uma ampla janela por onde podemos vislumbrar a cultura pampeana de um modo que o resto do
Brasil (talvez do mundo!) desconhece! Esqueçam os estereótipos que ao longo do
tempo se formatou sobre os gaúchos - o bagual, o chucro, o vanera, o vanerão,
etc e etc.
Sim, existe o traje tradicional, a indumentária
característica, mas da mesma forma como existe a do caipira do interior de São
Paulo, do vaqueiro nordestino com seu traje de couro.
Existe um Sul urbano que se mescla ao rural, múltiplos
dialetos, de muitas tribos, sem limites territoriais precisos, por onde
circulam brasileiros, argentinos, uruguaios, paraguaios. Refletido na música, vislumbramos um
mosaico musical que vai do canto tradicional ao lírico. Uma verdadeira montanha
russa de estilos, a cada domingo, uma surpresa, das 15 as 16 horas (horário de
verão brasileiro) na Radio USP. O endereço na Internet: www.radio.usp.br.
POEMODA – A CANÇÃO EM VERSO E PROSA
Se alguém algum dia se perguntou se há vida inteligente na
Internet, ouçam o Poemoda, as quartas feiras, das 21 as 22 horas (horário de
verão brasileiro), magistralmente conduzido por
Etel Frota e Alan Romero, e contando com inúmeros colaboradores. A cada
semana, uma seleção meticulosa sobre um tema corrente com nossos melhores artistas
(músicos, poetas, escritores, etc.), entre nomes consagrados, ou pouco
conhecidos, pois o critério fundamental é a qualidade.
Parafraseando o notável Carlito Maia: “...se o Poemoda não existisse, precisaria ser
criado agora mesmo!” A cada dia arregimentando novos “poemoças” e “poemoços”
POEMODA, a Canção em Verso & Prosa é uma pausa na azáfama cotidiana para se
reabastecer de doçura e ternura !
PREMIO GRÃO DE MÚSICA
Em 2016 ocorreu a terceira versão do Premio Grão de Música.
Idealizado por Socorro Lira, o troféu criado por Elifas Andreatto é um símbolo da
resistência da música independente do Brasil.
Um grão que seja de pureza e de verdade, resgatando e
preservando. Mas o Grão de Música é mais que um simples Grão, é um elo que
agrega. Não é um prêmio em dinheiro – por ora, mas de reconhecimento. Uma festa
bonita, sempre no auditório da Galeria Olido. Vale muito a pena ver a alegria
do artista reconhecido por seus pares e o público!
NOEL ANDRADE & BLUES ETILICOS
O elo que os une é o violeiro Tião Carreiro. Noel Andrade,
jovem violeiro, discípulo de Gedeão da Viola - que dispensa comentários - e que
apesar de fidelíssimo às mais profundas tradições caipiras, tem a cabeça aberta
musicalmente para buscar e ampliar novas linguagens musicais, juntou-se à
conhecida banda Blues Etilicos e juntos apresentaram no Sesc Belenzinho o show
“As Dez Cordas de Tião Carreiro.”
Não é de hoje de Tião Carreiro chama a atenção de fora do
universo violeiro. Foi a inspiração
direta da formação da banda Matuto Moderno, ao transformarem os solenes acordes
da violinha em Hard Heavy!
Noel Andrade & Blues Etílicos encantaram o público
colocando lado a lado e misturando linguagens e gerações. Belo projeto, que
abre espaço para cada vez mais o velho Tião Carreiro ser reconhecido como
grande músico e não apenas o criador e rei do pagode. A parceria de Noel &
Blues Etílicos rendeu um CD que brevemente estará nas melhores casas do ramo.
JOSE VICENTE NETO, ENTRE CÉU E MAR
O CD O Tempo e o Vento é um marco na discografia brasileira.
Tem uma história linda, inspirado que foi pelos versos de Cecilia Meireles. Não
só Cecília, mas por outras latinidades e brasilidades: O Tempo e o Vento fala de vida, é leve e é
denso, fincado que está nas raízes do tempo, ao passo que nos faz
planar/levitar entre o sol e o vento.
É um desdobramento que continua.
Inspirou o poeta Jose Vicente Neto, conterrâneo de Consuelo
em surpreendentes e arrojados versos, nascidos da audição do disco. Como ele
mesmo disse: “...me desassoguei,
sobrevoei sonhos! Arranquei amarras! Arrevoei!”
ELOMAR E JOÃO OMAR NO SESC BELENZINHO
O show que Elomar e João Omar, acompanhados pelo violoncello
de Ocello Mendonça, deveria transformar-se em tournée, pelo Brasil e pelo
mundo. Poucas vezes o universo
elomariano foi tão bem bem sintetizado: para quem conhece a trajetória do velho
bardo de Vitória da Conquista, tudo esteve ali representado: as cançonetas do
universo catingueiro – ou sertanez como ele prefere -, algumas árias de suas
peças eruditas, além das canções conhecidas, aquelas que todos cantam junto
como Campo Branco e Arrumação.
E de arremate, João
Omar e seu violão brindou o público com algumas composições de sua própria
lavra, além de peças de autoria de seu pai, especialmente compostas para
violão. Definitivamente João Omar se consagra como grande interprete. O mundo é
o limite!