CONSUELO DE PAULA NA GALERIA OLIDO

   

Na próxima segunda, 16 de Julho, a cantora, compositora, poeta, produtora musical CONSUELO DE PAULA  estará se apresentando na Galeria Olido, em São Paulo, ali no inicio da Av. São João.

O show faz parte do Projeto Olido Canto e tem a curadoria de Luiz Carlos Bahia.



Será uma excelente oportunidade de apreciarmos a arte musical da mineira de Pratápolis radicada em São Paulo, autora de obra primorosa, que inclui seis CDs e um livro – uma das obras, o Negra, foi lançado fisicamente em DVD e na plataforma digital, acessível através de seu site.

Nos últimos tempos, Consuelo tem privilegiado espaços menores, como o Teatro da Rotina, o Mora Mundo, engajada num projeto próprio denominado “Movimentos de Amor e Luta”, motivada, creio eu, pela conturbada situação político/social/econômica pela qual a sociedade brasileira passa nos últimos anos. Como poeta sensível que é e pela razão de que “poetas nunca dormem e sim sonham”, a proposta/resposta que Consuelo nos apresenta vem através de sua Arte, aspecto da vida que ela domina como ninguém.

Os “Movimentos de Amor e Luta” foi o ponto de partida para uma nova empreitada em sua carreira, ela que jamais se repete, mesmo se lhe dêem a garantia de sucesso fácil: cada um de seus trabalhos, embora exista a coerência temática, é cada qual distinto. Os “Movimentos” serviram, digamos, de laboratório para sua nova investida. Material para gravar é o que não lhe falta, autora de vasta obra inédita, em solo ou  com parceiras de variados estilos, além de “recolhas” de canto tradicional do interior do Brasil. Contudo, o novo CD, chamado por ora MARYÁKORÉ, é um trabalho absolutamente surpreendente em sua sempre provocativa carreira.

MARYÀKORÉ é mestiço, junção de expressões afro e indígena e naturalmente, com múltiplos significados, nuances que delicadamente se esparramam entre nós, revelando em alegre colorido as riquezas ancestrais desses povos, amalgamado por outras influencias que se juntaram ao caldeirão racial e cultural brasileiro, ressonâncias que nos vem desde a Ibéria, o Médio Oriente, outros mundos afora.

MARYÁKORÉ poderia ser chamado a versão poética e imagética de todos os significados presente nos “movimentos de amor e luta”: são tempos de amor e luta, e a arte é das poucas alternativas que temos perante situações caóticas que podem nos empurrar diretamente para o abismo. Juntamos a luta é sempre necessária, aqui, agora em qualquer tempo, e o Amor, tão fundamental nas nossas vidas.
“Amor e luta” são componentes de um mesmo e necessário processo.
A palavra MARYÁKORÉ, de origem afro e indígena, não é somente um neologismo inspirado pelos povos de dois distantes continentes que nesta terra se juntaram; é uma tradução possível do que pode nossa criatividade mestiça, nascida da disparidade que tanto encantou o professor Darci Ribeiro que acreditava sermos capaz de protagonizar um destino glorioso (vide seu livro Viva o Povo Brasileiro).

KORÉ isoladamente significa “flecha”, que pode ser uma arma (apropriada para a luta) ou a flecha do amor, de Cupido. A palavra KORÉ, em risco de extinção, pertence ao povo Pareci-Haliti, da família linguística Aruak, que nos primeiros tempos da colonização ocupavam amplas faixas do litoral e sertão nordestino, e hoje em dia seus membros estão reduzidos a aproximadamente 1.300 pessoas. A grafia do nome pode ser Pareci/Paresi ou Hailiti/Ariti. KORÉ/flecha também pode remeter ao berimbau e seu arco.



Meninos da etnia Pareci

Desmembrando o nome MARYÁKORÉ, temos YAKORÉ, um nome próprio africano. E MAR, palavra portuguesa, que nos remete por sua vez ao Grande Mar que afinal nos uniu a todos, portugueses/europeus, indígenas e africanos; não foi a união festeira que deveria ter sido, e sim séculos de combate e exploração, mas ao fim e ao cabo, cá estamos e a hora é de nos dar as mãos. Ainda dentro do vocábulo MARYÁKORÉ vamos encontrar o significativo nome MARIA (Marya), tão comum e tão singelo, que também é o primeiro nome de batismo da artista, que nos seus primeirs tempos de Paulicéia se apresentava como Maria Consuelo! E a tudo permeando no desmembramento, encontramos ainda AR, o ar de todos nós. Não por acaso, ORÉ significa NÓS em tupi-guarani! (Informações cedidas ao blog pela própria Consuelo).


MARYÁKORÉ, além dos significados míticos ou mesmo brotados do inconsciente coletivo, reflete particularmente um novo momento, uma nova fase da vida musical de uma artista vivendo o seu o melhor de sua forma e justamente por isso,  arriscando, ousando, inquieta que é.

No show está confirmada a participação do percussionista Carlinhos Ferreira e provavelmente no disco terá a participação de um pianista. Os diferentes artistas/instrumentos, somados ao violão e com vários arranjos da própria Consuelo nos dá o tom dos muitos significados simbólicos dos 3 povos, dos 3 troncos fundadores da Nação.


Carlinhos Ferreira 

O trabalho, portanto, presta tributo a povos e categorias sociais que nos dias de hoje são obscuros, mas que possuem uma história rica, que merece ser cada vez mais conhecida. O trabalho de Consuelo de Paula faz mais que um resgate: seu ouvido atento “atendeu” ao chamamento dos orixás e despertou a Cabocla, que sempre caminhou lado a lado com a Galêga e a Negra.
É muito possível que acordes inaudíveis aos ouvidos, mas perceptíveis à alma tenham sido pressentidos nas suas apresentações do projeto “Imagens do Brasil Profundo”, da Biblioteca Mario de Andrade, sob a coordenação do sociólogo Jair Marcatti que, seguindo a observação da velha canção de Milton Nascimento, mostra que  o Brasil “não é só litoral / É muito mais do que qualquer zona sul...”

No show serão apresentadas músicas de seu vasto repertório, dos seis CDs até aqui produzidos e algumas músicas do  novo, ainda em produção, “Maryákoré”.
Quem já a viu em ação, mesmo nas gravações disponíveis no youtube, sabe: Consuelo é uma artista que se revela em essência, pura emoção nua e crua, de uma artista guerreira e teimosa, apaixonada por seu oficio.






DISCOGRAFIA:
Samba Seresta e baião
Tambor em Flor
Dança das Rosas
Negra (DVD e CD)
Casa
O Tempo e o Branco.

LOCAL
Espaço Olido
Av São João, 473 – São Paulo, Centro
Dia 16 de julho de 2018
20:00 horas

Entrada Franca


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