A mineira Consuelo de Paula surpreendendo – mais uma vez: dentre os muitos projetos que vem conduzindo, Atiaru chama nossa atenção. A palavra em si é uma dança indígena praticada por homens e mulheres, a partir do entardecer e seu objetivo é afastar os maus espíritos e chamar os bons – impressão pra lá de promissora, para esses tempos que vivemos, sob a ameaça constante de um colapso tenebroso! Sim, precisamos mandar embora as coisas ruins e atrair as boas!
Em boa hora, Atiaru é o escudo escolhido para ilustrar algumas facetas do trabalho da cantora e compositora ao longo de sua irrequieta carreira. Depois de apresentar o Atiaru Cordas, com a violoncelista Adriana Holtz, chega a vez do Atiaru Tambores, com a percussionista Priscila Brigante, no próximo 8 de outubro de 2022.
Sob a roupagem das Cordas ou dos Tambores, são momentos peculiares, nos convidando a rever seu trabalho sob outros ângulos, tão originais como se os estivéssemos apreciando as músicas pela primeira vez. Trabalho imenso e leve, que foi mostrado no Atiaru Cordas e será revelado no Atiaru Tambores, ricas ilustrações emoldurando canções desde Samba Seresta e Baião até Maryákoré. Cordas e Tambores, adornos para ilustrar a trajetória da Escultora de Música!
Consuelo vive um momento extraordinário. Mesmo nas suas apresentações solo, quando se mostra “apenas” com seu violão, multidões a acompanham, pois através de seu canto são muitos os que falam, gritam, clamam. A sua é voz múltipla, pois é a voz de todos nós. Usando uma palavra muito em voga nos nossos tempos, Consuelo de Paula, é voz que nos representa. Do alto de sua autoridade, legitimada por seu talento transbordante, tal qual sacerdotisa da Sagrada Arte Musical, rege a alegria, a luta, a esperança e o amor. Da voz cristalina da mulher-musa, adornada pelo cello ou enlevados pela percussão, chega a Cura. Que sejamos salvos, curados pela Música.
Seus Movimentos, seus Chamamentos, seus Caminhos, seus parceiros – Amauri Falabella, Rafael Altério, João Arruda, com quem finalizou o lindo CD “Beira de Folha”, disponível nas plataformas digitais. Há poucos dias participou de uma live com Regina Machado que nos deixou boquiabertos com a quantidade e qualidade do material, capaz de preencher vários CDs ou pelo menos um álbum duplo.
E em meio a esse trabalho intenso, encontra tempo para participar do espetáculo “Canta Inesita”, homenagem à grande dama de nossa cultura musical, que rendeu igualmente um CD de mesmo nome, junto as Irmãs Galvão, Cláudio Lacerda e Maria Alcina. Ia me esquecendo d’As Mamelucas, com Cátia de França e Déa Trancoso!
TAMBORES
Atiaru Tambores não é surpresa para quem acompanha seu trabalho, pois os batuques sempre estiveram presente e com grande destaque, perpassando praticamente todo o seu trabalho, com destaque para Dança das Rosas, Tambor e Flor, (o titulo diz tudo) e Maryákoré, com o Mago da percussão, Carlinhos Ferreira. Vale lembrar o DVD Negra, e a marcante e forte intepretação de “Piedra y Camino”, de Atahualpa Yupanqui, com voz e maracas; no mesmo Negra, vide a cantiga “Caicó”, de Villa-Lobos e Teca Calazans, interpretação visceral com o violão a servir de percussão, não no tradicional tampo, mas nas cordas. Timidamente outros instrumentos – violão de Dante Ozzeti, viola de orquestra de Fabio Tagliaferri, percussão de Ari Colares, piano de Heloísa Fernandes, clarinete de Zezinho Pitoco, bateria de Sérgio Reze, contrabaixo de Zeca Assumpção - vão pedindo licença e adentrando um espaço sagrado onde tudo parece subordinado ao pulso do coração que resgata a força da cantiga... Mais uma interpretação definitiva, juntada a’O Ciúme, de Caetano, segundo feliz definição de Mauro Dias.
O viés percussivo que será apresentado em Atiaru Tambores tem muito a ver com suas origens e o natural interesse pela cultura popular viva em sua Pratápolis natal, M. G., com suas Congadas, Moçambiques, Cirandas, Toadas, Sambas, Serestas, Cacuriás, Baiões, etc. Falar nisso: lembremos o disco que ainda falta em sua discografia: sambas!
Enfim, no Teatro Paulo Eiró, no dia 8 de outubro, será uma ventura feliz. Recorro as palavras do crítico Luís Antonio Giron, por ocasião do lançamento do DVD Negra, que a definia com em tons proféticos: “...o trabalho de Consuelo de Paula se destacou na passagem do século XX para o XXI. Cantora de referência de um sonho de nossa música. Consuelo canta com a autoridade de quem canta e purifica a música. O resultado é um som sem contaminação, algo como o nascedouro da tradição e da modernidade, tudo ao mesmo tempo...”
O texto de Giron antecipava as futuras incursões da artista em trabalhos como a poesia dançante de O Tempo e o Branco ou o revolucionário Maryákoré, seu disco rústico, emergido das forças recônditas da alma brasileira. Escreveu ele: “Nascedouro da tradição e da modernidade. Tudo ao mesmo tempo.” Prossegue o critico: “...resulta de uma elaboração profunda, um talento da canção popular, que se apresenta como universal.”
Ave! Ave Palavra! Ave Maria Consuelo! Ave música brasileira! Ave tambores! Ave Coração! Gracias, gracias!
O evento faz parte do Festival das Marias – Festival Internacional de Artes no Feminino – entre os dias 06 e 18 de outubro de 2022. @marias.festival · Festival
SERVIÇO:
Consuelo de Paula e Priscila Brigante, no espetáculo Atiaru Tambores
Teatro Paulo Eiró
08
de outubro de 2022, as 18 horas - Entrada franca
Av Adolfo Pinheiro, 765
Próximo
a estação de metrô Adolfo Pinheiro, da linha lilás