O que podemos falar de um gigante, da encarnação da arte e cultura brasileira, orgulho de todos e de todas?
Poucos artistas brasileiros deixaram um legado tão impressionante quanto Rolando Boldrin. Poderíamos preencher várias páginas só com os títulos de suas obras, que incluem inúmeros ramos da arte brasileira, presença forte na música, no rádio, circo, teatro, cinema, literatura, televisão. A arte sempre fez parte da vida de Rolando Boldrin, desde a infância. Aos 12 anos formou uma dupla caipira “Boy e Formiga”, com o irmão, com o qual se apresentava na radio de São Joaquim da Barra, sua cidade natal. Desde criança, portanto, os palcos sempre lhe foram ambiente familiar, os quais frequentava com naturalidade: de tablados de circo, estúdios de gravação, auditórios ao palco nobre das salas de concerto, o ator, cantor, apresentador se sentia em casa.
Felizmente, sua importância foi reconhecida em vida, com diversas homenagens em livros, discos, documentários. Em 2010 foi tema da escola de samba Pérola Negra. Sua última participação no cinema, no “ Filme da Minha Vida”, de Selton Melo, foi uma verdadeira chave de ouro. Foi não apenas seu melhor trabalho – apesar de curta participação – como um dos melhores trabalhos do cinema nacional, encarnando o papel do condutor de um trem. Poderia, metaforicamente, ser chamado, O Trem da Vida.
Ao longo da longa carreira jamais cedeu aos apelos comerciais e ao sucesso fácil. Sua marca registrada era a autenticidade, que não desgrudava um só instante do artista e da pessoa. Se desejasse poderia ser daqueles artistas exclusivos da maior emissora de comunicações do Brasil, mas em tempo algum, abriu mão de sua liberdade artística e cidadã. Seus programas sempre estiveram abertos aos artistas brasileiros autênticos; seu talento e prestígio sempre foram canais abertos para artistas, fossem consagrados ou pouco conhecidos, quase anônimos. Diz muito da importantância que ele sempre reservou à arte brasileira o enorme acervo montado e organizado por Patricia Maia que formavam o cenário do Sr. Brasil. Obras de artistas de renome lado a lado com singelas peças de artistas genuinamente populares.
O MAIOR LEGADO
Do muito que ele fez, sempre deve ser lembrado o status a que ele elevou a figura do caipira. Rolando Boldrin foi um Cornélio Pires dos tempos modernos, com recursos tecnológicos. Transformou a figura estereotipada do Jeca num sábio erudito. Transformou o pejorativo caipira numa figura que ultrapassa as vicissitudes cotidianas com humor, criatividade e sobriedade. A caipirice inicialmente pejorativa, alvo de piadas preconceituosas, foi transformada na sabedoria intuitiva do homem simples do povo, orgulho de sua comunidade. Com ele o caipira mudou de status e esse deve ser o seu maior legado.
Muito se escreveu e se escreverá sobre Boldrin; muito vamos cantar, muito vamos versejar. Que se saiba que isso é muito justo e também insuficiente.
Ao se referir aos que partiram desta vida rumo ao “andar de cima” da existência, Boldrin costumava dizer que “ partiu antes do combinado”, significando partiu cedo demais. Ele viajou para o andar de cima aos 86 anos e com mais de 60 anos de carreira, não se poderia dizer que foi antes do combinado. Mas no caso dele, partiu antes, sim. A partida de Boldrin aos 86 foi uma grande surpresa, deixou a arte brasileira temporariamente órfã, sem chão. Pois se vivesse mais 86 ou 100 anos, sempre estaria abrindo gavetas e delas retirando Brasis.
Ressaltamos aqui, brevemente, os Programas de TV dos quais participou. Ppor sorte estamos na era do VT e esperamos que todos os seus programas estejam gravados, monumental arquivo do mais genuíno e desconhecido Brasil.
- Sr. Brasil (TV Cultura, 2005 a 2022)
- Estação Brasil (TV Gazeta e CNT, 1995 a 1996)
- Empório Brasil (SBT, 1989 a 1990)
- Empório Brasileiro ( TV Bandeirante, 1984 a 1986)
- Som Brasil (TV Globo, 1981 a 1984)
Foram centenas de artistas que passaram por seus programas ao longo do tempo.
João Bá
Boldrin e Consuelo de Paula
Deo Lopes e Boldrin
Noel de Andrade, Katya Teixeira e Boldrin